Um Dogma Ateísta Fajuto: Refutando o 'Bule de Russell' Três Vezes
Cansado de debates infrutíferos com ateus na internet, decidi buscar um desafio maior. Mal sabia que seria tão decepcionante.
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Debater com ateus na internet é muito mais complicado do que parece. Não porque seus argumentos sejam sólidos ou sua lógica faça lá muito sentido. Mas porque o que lhes falta em pensamento crítico, sobra em perseverança. E eles não têm pudor algum em usar essa arma secreta para vencer nossos espíritos pelo cansaço.
Buscando uma experiência intelectual mais edificante, resolvi sair da internet e debater com um dos titãs da filosofia do século XX: Bertrand Russell. Com a vantagem de que, tendo falecido há 55 anos, ele não poderia ficar argumentando ad infinitum… (sim, que feio de minha parte).
Em seu artigo “Existe um Deus?”, Russell incluiu uma analogia superficialmente interessante, que vem sendo repetida à exaustão por ateus das mais diversas seitas e denominações pelo mundo afora (a citação mais famosa é de Richard Dawkins, em seu roteiro de cine privê ateísta, ‘Deus, um Delírio’):
O Bule de Chá de Russell
“Muitos ortodoxos falam como se fosse obrigação dos céticos contraprovar dogmas consagrados, e não dos dogmáticos comprová-los. Isso é, claro, um equívoco. Se eu sugerisse que entre a Terra e Marte há um bule de chá chinês rodando em torno do Sol numa órbita elíptica, ninguém seria capaz de contraprovar minha afirmação, desde que eu tenha tido o cuidado de acrescentar que o bule é pequeno demais para ser revelado até pelos nossos telescópios mais potentes.
Mas, se eu prosseguisse dizendo que, como minha afirmação não pode ser contraprovada, é uma presunção intolerável por parte da razão humana duvidar dela, imediatamente achariam que eu estava falando maluquices.
Se, porém, a existência do bule tivesse sido declarada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todos os domingos e instilada na cabeça das crianças na escola, a hesitação em acreditar em sua existência se tornaria um traço de excentricidade e garantiria ao questionador o atendimento por psiquiatras numa era esclarecida ou por um inquisidor em eras anteriores.”
É sempre um prazer ler Bertrand Russell. Ele foi, sem dúvida, um dos maiores ensaístas que a língua inglesa já produziu. O talento dele é tamanho que você quase não percebe que, nessa passagem tão eloquente, o que ele está falando não passa de um monte de abobrinha.
Sem mais delongas, vamos aos três argumentos que derrubam, com fatos e lógica, a falácia do Bule de Russell:
A. O Argumento da “Ausência de Fenômeno”
A ciência começa com um fenômeno;
Formulamos hipóteses ou princípios para explicar, prever ou reproduzir tal fenômeno;
Então, criamos experimentos, ou fazemos observações, para testar essas hipóteses e princípios;
Tradicionalmente, a existência de Deus é proposta como explicação para três fenômenos: a criação do universo, da vida e da psique humana (ou livre-arbítrio);
Na analogia de Russell, o Bule não serve como explicação para fenômeno nenhum; ele simplesmente existiria. O Bule não teria criado o universo, nem a vida — na verdade, nem sequer projetaria uma sombra sobre Marte que exigisse alguma explicação;
Portanto, podemos descartar o Bule, pois não faz sentido investigar cientificamente algo que não se propõe a explicar nenhum fenômeno — o Bule não é causa de nada. Já Deus não pode ser descartado por esse critério.
B. O Argumento da “Falsificação do Bule”
Mas, a título de discussão, suponhamos que tanto Deus quanto o Bule sejam teorias concorrentes para explicar aqueles três fenômenos que listei (universo, vida, psique humana);
Porém, Deus, por definição, não faz parte do universo, uma vez que Ele o criou (ou, segundo Santo Agostinho, Deus existe fora do tempo e do espaço). O Bule orbitando Marte está obviamente dentro do universo; portanto, não poderia ter criado o próprio universo que o contém, o que invalida essa hipótese;
Além disso, com recursos suficientes, poderíamos enviar uma frota de sondas espaciais para vasculhar a órbita de Marte em busca do Bule. Isso constituiria um experimento teoricamente válido, embora talvez impraticável na realidade. No entanto, não há experimento que possamos conceber para vasculhar o universo em busca de Deus;
Assim, ao contrário do que teoriza Russell, o Bule é falsificável (pode ser refutado); enquanto Deus não o é;
Logo, podemos rejeitar o Bule pela segunda vez, enquanto a hipótese de Deus segue invicta.
C. O Argumento da “Navalha de Occam”
Mas, novamente a título de discussão, vamos supor que o Bule, como criador do universo, atribuísse a si mesmo propriedades mágicas: fazer e não fazer parte desse universo, e ser indetectável por nossas sondas;
Teríamos, portanto, os mesmos três fenômenos e duas explicações concorrentes teoricamente perfeitas. Em ambas, encontraríamos uma ‘entidade’ com poderes infinitos;
Agora, a única diferença é que, numa teoria, essa entidade é um bule orbitando Marte; na outra, não;
Nesse ponto, aplicamos a Navalha de Occam e desferimos o golpe final na hipótese do Bule, por ser desnecessariamente rocambolesca. Simplesmente não há motivo para aceitarmos o formato de um ‘bule orbitando Marte’ como necessário para qualquer explicação. Adeus, falácia!
Resultado: o Sr. Russell Admite, Ele Não é um Ateu de Verdade
Após o debate, sentindo um certo remorso por ter praticado bullying contra um velhinho de 153 anos, me aproximei de Bertrand e perguntei se ele estava bem. Foi então que ele confessou:
“Eu deveria me considerar agnóstico; mas, por razões práticas, sou ateu. Não acho que a existência do Deus cristão seja mais provável do que a dos deuses do Olimpo ou de Valhala.”
Ora, vejam só! No fim das contas, nem ateu ele era! Sofria, isso sim, de um grave Complexo de Édipo mal resolvido contra o nosso bom e justo Javé.
Como muitos ‘cavaleiros’ do ateísmo, quando se veem acuados pela falta de lógica em suas crendices, Russell lançou mão do velho “na verdade, sou agnóstico” e do clássico “sou ateu, só que descafeinado”.
E eu, sinceramente, fiquei bastante decepcionado ao descobrir que o Sr. Bertrand Russell, na verdade, não tinha café nenhum em seu Bule!
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Não bastava o Bule de Russell ser cringe já no nascedouro; inspirou filhotes como o Dragão na Garagem, de Sagan, e o Espaguete Voador. Cada uma dessas gemiparidades se pretendendo original e definitiva. Coisa de psicóticos.
Destrinchando "Porque não acredito em Deus", de Bertrand Russel, Olavo de Carvalho se detém num trecho em que o filósofo aconselha os Estados a investir em armas epidemiológicas contra sua própria população a fim de mantê-la em patamares administráveis. Nada que Bernard Shaw não tenha proposto antes, mas sob forma de um gás indolor a ser usado contra os espécimes desnecessários (os nazistas entenderam e aprimoraram o Zyclon-B). Nada podendo fazer contra o Deus ao qual repudia, Russell arremete contra Suas criaturas. Gente boa esse Nobel.