Ateísmo, a Religião dos Terraplanistas
Em que você acredita quando diz não acreditar em nada?
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Eu sou criacionista. Um criacionista à moda antiga. Não um adepto da modernidade do ‘Design Inteligente’. Eu realmente acredito que, em algum momento, provavelmente há cerca de 27 bilhões de anos, Deus literalmente estalou os dedos e criou o universo. Para mim, o Big Bang foi Deus estalando os dedos.
Minha crença fundamental no criacionismo não se apoia no Gênesis, porém, mas em Aristóteles, o pai do monoteísmo ocidental. Em sua Metafísica de 322 a.C., o Filósofo introduziu o conceito do ‘motor imóvel’: tudo que se move foi movido por algo anterior; se A está em movimento, então um B deve ter movido A, e assim sucessivamente. Essa série tem de culminar em um X — um motor imóvel, a causa primária, a origem de todo movimento no universo. Aristóteles chamou este X de ‘Deus’, descrevendo-O como perfeitamente belo, indivisível e ocupado com a contemplação perfeita: autocontemplação.
Desde então, o ‘motor imóvel’ foi associado ao Deus judaico-cristão por pensadores como São Tomás de Aquino e Maimônides. Este é o Deus que causou o universo, criou a vida e confere aos seres humanos um propósito. O mesmo Deus que deu aos ateus algo em que não acreditar.
Deus deu aos ateus algo em que não acreditar
Mas, afinal, em que acreditam os ateus quando afirmam não crer em Deus? Longe de não terem crenças, eles adotam a lógica oposta: o universo é eterno, a vida emergiu de algo inanimado e nossa existência é fruto do acaso mais puro.
Houve um tempo em que o consenso científico sustentava que o universo era eterno, excluindo a possibilidade de um criador. Ateus ao redor do mundo celebravam, com Nietzsche se empolgando a ponto de proclamar que o próprio tempo se encontrava em um ciclo de ‘recorrência eterna’. Com essa concepção de um tempo sem início ou fim, a idéia de Deus foi apagada da história da ciência.
Essa visão predominou até que Georges Lemaître, um padre católico belga, desafiou o consenso científico ao apresentar a Teoria do Big Bang como explicação para a origem do universo. Ao expor os erros do establishment ateu, Lemaître não apenas avançou nosso entendimento científico, mas também reabilitou a possibilidade de Deus como o Criador do universo.
Se o universo teve um início, é plausível considerar que tenha existido um momento de criação — e, portanto, um Criador. Mais do que isso, essa teoria validou a intuição de Santo Agostinho, no século IV d.C., de que tempo e matéria teriam uma origem comum.
É claro que a Teoria do Big Bang não implica necessariamente um criador. No entanto, um criador hipotético poderia solucionar um grande problema ainda sem resposta: se nada causou o Big Bang, esse evento violaria as leis de conservação de massa e energia.
Mas, a patacoada do ‘universo eterno’ não foi a primeira vez em que a pseudociência ateísta tornou-se alvo de ridículo.
Em uma declaração meticulosa de amor-próprio, muitos ateus se dedicam ao bullying dos terraplanistas, talvez porque isso os faça sentir-se um pouco mais inteligentes em comparação.
A idéia de uma Terra plana é uma proposição eminentemente ateísta
Ignoram, porém, que a idéia de uma Terra plana é uma proposição eminentemente ateísta, originada nas obras de Epicuro, um filósofo ateu do século IV a.C. que buscava deslegitimar o culto pagão ao Sol e à Lua como deidades físicas (daí o termo ‘corpos celestes’). Ele argumentava que ambos não passavam de fenômenos atmosféricos — ou seja, insinuando que eram meras consequências das ‘mudanças climáticas’ em jargão moderno.
Para que seu modelo fosse consistente com a gravidade, Epicuro propôs que os átomos continuariam a cair num vazio infinito até encontrarem resistência. Enquanto uma Terra esférica faria a matéria deslizar para fora de suas bordas, uma Terra plana ofereceria a resistência necessária para manter a matéria sobre sua superfície, enquanto a própria Terra continuaria a cair no vazio, assim ‘explicando’ os movimentos cosmológicos
A cosmologia de Epicuro sustentava que tempo e espaço eram eternos, formando um contínuo sem início nem fim, similar à ‘recorrência eterna’ de Nietzsche. Neste universo, tudo é material, não havendo espaço para a metafísica ou o sobrenatural. A convicção moral de Epicuro de que Deus não existia o levaram tanto a um universo infinito, quanto a uma Terra plana.
Segundo a ética epicurista, ou ‘hedonismo egoísta’, o propósito da vida é a busca pelo prazer. A possibilidade de um julgamento no além-vida minaria esse objetivo, motivando a crença em um universo puramente materialista, desprovido de fontes de moralidade metafísicas. Assim, desenvolveu-se uma teoria pseudocientífica, articulada de trás pra frente para justificar a premissa do ateísmo.
Embora os epicuristas não negassem o livre arbítrio, eles o consideravam um produto do acaso num universo infinito, em constante movimento aleatório. Essa noção de aleatoriedade ainda é um pilar fundamental no pensamento ateísta contemporâneo, apesar do ceticismo científico.
Alguns ateus usam essa teoria de forma indevida para sustentar uma crença de que somos nada mais do que aglomerados de células, evoluídos a partir de incontáveis permutações de poeira estelar.
Neste modelo, nossos pensamentos, emoções e consciência seriam apenas reações químicas e impulsos elétricos, ou o resultado de colocações acidentais de átomos. Tudo reduzido a ruído branco e enzimas.
Nossos pensamentos, emoções e consciência seriam apenas reações químicas e impulsos elétricos
Além disso, há a incômoda questão sobre a origem da vida. A evolução explica como uma espécie se originou de outra, mas nunca trata da origem da vida em si. Regredir de uma espécie para sua ancestral, assumindo que nunca existiu um Criador, inevitavelmente leva à conclusão absurda de que a vida deve ter se originado a partir de matéria inanimada. Assim, os ateus precisam dar um grande salto de fé e acreditar que, em algum momento do passado, uma pedra deu à luz a uma célula.
Apesar das deficiências de sua crença, alguns ateus, ávidos por validação social, frequentemente proclamam sua suposta superioridade intelectual, citando estudos que ‘provam’ que a religiosidade “correlaciona inversamente com inteligência” ou que ateus são “mais brilhantes que os cristãos” e “mais inteligentes que os crentes.”
Embora tais estudos estejam provavelmente contaminados por interesses não-científicos, os ateus parecem de fato ter QIs ligeiramente acima da média, o que é o mesmo que dizer que o ateísmo é uma crença que atrai pessoas com uma inteligência basicamente mediana.
Um argumento insatisfatório, medíocre, previsível e decepcionante para ser feito por aqueles que se proclamam intelectualmente superiores, baseado em um bando de estranhos preenchendo patéticos testes de QI e depois entregando-os a um grupo de estudantes de graduação entediados para tabulação.
A verdadeira genialidade aspira alcançar o que Bertrand Russell, admitidamente um ateu brilhante, chamou de “o brilho do meio-dia do gênio humano.”
Estar ligeiramente acima da média em QI não é o mesmo que ser brilhante. A genialidade é encarnada por Dostoiévski escrevendo Irmãos Karamazov, Kepler decifrando as leis do movimento planetário e Gregor Mendel estabelecendo os princípios da genética. Encontra-se nas Quatro Estações de Vivaldi, no cálculo diferencial de Leibniz e Newton, e na geometria analítica de Descartes. Na poesia enciclopédica de Dante. Em Magalhães circunavegando o globo e Faraday descobrindo o eletromagnetismo. Isso é verdadeira genialidade! Em comparação, resolver um cubo mágico em dez segundos dificilmente se qualifica como impressionante.
Todas essas mentes brilhantes não eram apenas nominalmente religiosas, conformando-se às normas sociais de seus tempos; mas verdadeiros devotos que alcançaram grandes realizações não apesar de sua fé, mas sim por causa dela.
Eles acreditavam não apenas em Deus, mas também em um propósito superior para suas mentes e almas. Eles não se renderam ao hedonismo como um meio de escapar a um mundo brutal e materialista, onde nosso único propósito é reagir aos estímulos de um ambiente hostil até eventualmente desaparecermos, tornando-nos tão inconsequentes quanto a poeira estelar de que somos feitos.
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