Não deixem de ler as Frases da Semana na Gazeta do Povo!
Nota: estudo de um personagem para o livro de ficção que estou escrevendo.
Platinho, porque já temos um Platão. Como Ronaldinho e Ronaldão em 94.
O nosso Prometeu reacorrentado.
O pontífice mínimo.
Platinho não é mortal, nem imortal; é anti-mortal.
Ele é 100% feito de brasilidade.
Quando Platinho nasceu, o mundo acabou por uma fração de segundo.
A academia de Platinho ficava atrás do campo do São Cristóvão. Por isso dizem que ali nasceu o fenômeno
O fenômeno nasceu no Brasil. E não adianta Husserl espernear.
O caráter de Platinho não era bom nem mau; era neutro. Isento.
Como bom brasileiro, Platinho explicou muitas coisas que nem ele sabia
“Pras Índias? Sem erro, irmão: vai passar a primeira ilha, depois a segunda, daí — antes de chegar no Cabo da Boa Esperança — você pega a primeira à direita e segue toda a vida.” — Diálogo entre Platinho e Cabral, c. 1500.
Platinho tem filosofia no pé.
Questões sobre as quais Platinho se debruçou: Quem é o povo? O que é o povo? Quando se é povo? Como é o povo? Onde está o povo?
E a mais importante de todas: Por que o povo?
Corolário: Qual é a proporção máxima de sociopatas que uma sociedade aguenta, antes que a sociopatia se torne a norma?
Reparem nas influências gregas, o gorro de Saci-Pererê, a pele morena-jambo-da-cor-do-pecado, a túnica que evoca os apóstolos de Cristo e a maneira como ele segura seu diploma de filósofo, com a mão esquerda.
Como todo filósofo brasileiro, Platinho leu a obra inteira de Sócrates.
Para Platinho, não basta não ser racista ou até anti-racista: é preciso ser um supremacista moreno.
Platinho é uma criança-prodígio que já se aposentou.
Com uma barba de moleque precoce.
Dizem que Platinho escreveu todos os seus textos apócrifos.
Buscando soluções radicais para problemas simples.
Escrevia tudo fora de contexto, para ninguém conseguir deturpar.
Derrida dizia que nada existe fora ao contexto. ‘Ao’ contexto, não ‘do’ contexto.
Em Desdizendo Derrida, Platinho demonstrou que, na verdade, o próprio contexto é que não existe.
Platinho fazia sombras obscenas na parede da caverna de Platão.
Ensinava a seus alunos que, mais do que estoico, é preciso ser cínico.
Pare ele, nosso grande dilema civilizacional reside entre o relativismo moral e o falso moralismo.
Diálogo entre Platinho e Sócrates: “Como assim ‘só sei que nada sei’? Eu sei que alguma coisa você sabe. Agora, o que é que você sabe é o que eu não sei.”
Platinho foi o primeiro a dividir o mundo entre ‘nós’ e ‘eles’.
E revolucionou ao escrever seu clássico A República de Platinho inteiramente na 4ª pessoa do plural, um pronome bastante pessoal que inclui ‘eu’ e ‘tu’, mas não ‘ele’.
Na extensa obra de Platinho, destacam-se:
Razão, Consciência e Metafísica do Gingado
O Verde e o Amarelo
Curso Prático de Brasilogia: A Hermenêutica do Gosto Duvidoso
Uma Autoheterografia (ele se recusou a chamar de biografia, dado que era hétero)
Quando foi pró-consul, Platinho acabou preso por viciar a Loteria da Babilônia.
Contudo, isso não o impediu de incentivar Manuel Bandeira a ir para Pasárgada: “Vai pra lá e diz que é meu amigo”.
Era conhecido por trabalhar duro apenas para evitar trabalhar de verdade.
Separando o joio do joio, só pra fingir que estava fazendo alguma coisa na universidade.
Sabe-se pouco sobre sua família, a não ser que seu pai faliu após fundar a primeira clínica de depilação da Ilha de Lesbos.
Platinho era um brasileiro de verdade, na acepção brasileira do termo ‘verdade’.
Morreu fazendo o que mais gostava: comendo um camarãozinho frito no Joá, ao acidentalmente ingerir uma infusão de caipivodka com chá de trombeta.
Foi aluno de Megalofalo, o Argumentador — o primeiro homem na história conhecida a vencer uma discussão com sua esposa.
Megalofalo, tido como o pai da falosofia, defendia: “O que é a busca humana pelo conhecimento, senão uma corrida até uma conclusão? O sábio, portanto, deve sempre se apressar para chegar lá primeiro.”
Para o Argumentador, nunca se deve guardar rancor: “Acima de tudo, a paz de espírito. Não permita que o rancor te consuma, desconte sempre sua raiva na primeira pessoa que lhe der uma oportunidade.”
Platinho descreve um diálogo onde Megalofalo orienta o tirano ateniense Príapo:
“O sábio nunca erra. Insista sempre em seu ponto de vista, agressivamente se necessário, e mesmo que precise chegar a extremos. O orgulho é o limite da racionalidade. A honra é a recompensa do irascível.”
Em sua renomada Falocracia, ele introduziu o conceito que ficaria conhecido como navalha de Megalofalo: “A explicação mais extrema e mal-intencionada para qualquer ação é, geralmente, a correta.” Lá, ele também desenvolve o conceito de ‘obnoxium arbitrum’:
“Chamar à razão é como chamar um elevador: quanto mais você apertar o mesmo botão, mais rápido o elevador chegará; assim, quanto mais você insistir em impor suas opiniões, mais rápido alguém acabará concordando com você — não só concordará, mas será uma concordância profundamente mais comovida.”
Nesta mesma obra, ele lança as bases para o que Carl Jung mais tarde chamaria de arquétipos:
“Sempre faça generalizações em sua vida. Nunca se adapte; ao contrário, tudo deve se adaptar ao sábio. Jamais faça concessões; exija tudo sempre a sua maneira.”
Em O Príncipe Pródigo de Benin, Megalofalo discute a importância de assumir riscos desnecessários e fazer apostas desvairadas e irracionais para acumular riqueza de forma rápida (“a uma velocidade maior do que a que o tempo passa”), já que “a sorte favorece os bravos”, ele reflete.
Megalofalo advertia contra a inatividade intelectual, a qual ele identificava como uma ‘cabeça fria’ — “uma cabeça fria gera uma mente lenta”:
“Sua mente é como um Chevette a álcool: só funcionará se você a aquecer primeiro. Tome decisões apenas quando sua cabeça estiver suficientemente quente. O calor do momento é perfeito para decisões que podem mudar sua vida ou para dizer exatamente tudo o que vem à sua cabeça: a única e verdadeira sinceridade que existe.”
Durante seu exílio em Tebas, Megalofalo tornou-se obcecado pela natureza da realidade, abordada em sua obra Crítica ao Elogio Comparado, onde o Argumentador postula que:
“As coisas são exatamente o que parecem ser, em todos os momentos e em todos os lugares.”
Segundo ele, devemos sempre viver o momento e desconsiderar completamente o impacto de nossas ações no futuro, pois “quando — e se — o futuro chegar, talvez já estejamos mortos sem ter aproveitado nada”:
“Aquilo que você não pode ver, não lhe afetará. Tudo o que existe, existe diante de seus olhos. E desaparece assim que deixa sua presença.”
Megalofalo alistou-se no exército de Leônidas, viajando para a Pérsia, Índia e Norte da África, o que despertou seu interesse em zoologia, cristalizado em sua obra Uma Investigação sobre o Sabor das Carnes de Diferentes Animais, onde ele inventou a prática do churrasco.
Durante suas viagens, descobriu uma nova doença que, em homenagem à sua ex-mulher, chamou de Clamídia.
Em O Prepúcio de Zeus e Outras Relíquias, sua obra mais polêmica e misógina, ele propõe o modelo falocêntrico do universo e e detalha as características que, segundo ele, definem um ser humano:
“[...] um ser humano, portanto, deve possuir uma alma — que é o farol do propósito — e uma moralidade — o combustível que alimenta o fogo da justiça —, juntos iluminando o caminho do justo. Deve também possuir um corpo físico, que descende de uma existência etérea, equipado com coração e cérebro, como um navio que requer leme e vela para se equilibrar. Mas, acima de tudo, um ser humano deve ter um pênis, que é a âncora de nossa existência à realidade.”
Ele morreu pobre e sozinho, mas convencido de que estava certo sobre tudo. Naturalmente, com um sorriso no rosto.
Por suas contribuições aos campos da falosofia, filosofia, mitologia, biologia, misoginia, história e artes, Megalofalo é celebrado todo dia 11 de novembro (11/11) como um dos maiores patriarcas que já existiram.
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Brilhante! Passando mal de rir! Mas há uma pergunta que não quer calar: quantos saberão o que é um Chevette a álcool?