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Esta foi uma grande semana para a paz. Não estou nem aí para como isso aconteceu. Sinceramente, eu preferiria que J.D. Vance e Zelenskyy tivessem chegado às vias de fato. E não me importa quem está errado ou se Zelenskyy deveria ter usado um terno ou não.
Eu fiquei feliz que esse arranca-rabo tenha assustado os chamados ‘líderes mundiais’ tanto, a ponto de começarem a levar a paz a sério. Ainda assim, estou decepcionado com o quão fundo chegamos nesta sociedade feminizada, em que homens falando abertamente e agindo como homens podem desencadear tamanho pânico moral.
A primeira reação do mundo polido foi previsível: gritos de horror em posição fetal acionados por suas mentes supermedicadas. Então, de repente, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e seu par canadense Justin Trudeau começaram a falar sobre uma “coalizão dos dispostos” para garantir a paz.
Ficaram para trás os dias de militarismo girlboss da ex-primeira-ministra finlandesa Sanna Marin, que insistia: “a saída para o conflito é a Rússia deixar a Ucrânia”. Ela encontrou a saída de seu cargo, assim como Joe Biden e Boris Johnson — e com ‘o adulto’ de volta à sala, o único caminho óbvio é um cessar-fogo e um acordo de paz. E sim, isso significa negociar com Putin.
Uma Série de Circunstâncias Subestimadas
Um cessar-fogo garantido pelos Estados Unidos é muito mais valioso do que seus críticos querem admitir. Não importa quantas vezes Zelenskyy insista que Putin quebrou sua palavra nos Acordos de Minsk; como Trump o lembrou, Putin nunca quebrou um acordo intermediado por Trump. Não devemos subestimar isso. Nem o fato de que Trump provavelmente seja a única pessoa capaz de levar Putin à mesa de negociações com alguma credibilidade.
Além dos benefícios óbvios para a Ucrânia, esse cessar-fogo, se bem-sucedido, tem a chance de reabilitar a ideia de que o Ocidente pode afastar a Rússia da China — o que pode vir a ser útil algum dia. A primeira fase desse arranjo, envolvendo direitos de mineração de terras raras, estava pronta para ser anunciada na sexta-feira. Não é perfeito, mas seria o maior avanço desde que a invasão começou há três anos.
Ninguém sabe ao certo quanto valem esses direitos minerais, mas a Ucrânia pode acabar perdendo tudo para a Rússia de qualquer forma. Dividir o bolo com os EUA é um plano sensato. O acordo provavelmente precisará de constantes renegociações, expondo Trump a riscos consideráveis de reputação se tudo fracassar. Ele está colocando seu nome nesse negócio, algo que não se deve desprezar.
Não estou convencido, porém, de que isso alinhe completamente os interesses dos EUA e da Ucrânia. A Ucrânia sempre terá maior importância para a Rússia do que para os EUA. Sem garantias de segurança firmes — e confiando apenas em interesses comerciais — a Rússia poderia simplesmente tomar essas regiões e manter o status quo do negócio com os EUA.
O que Zelenskyy Realmente Quer Dizer com ‘Garantias de Segurança’
Quando Zelenskyy exige “garantias de segurança”, ele basicamente quer duas coisas: tropas ocidentais em solo ucraniano, preferencialmente da OTAN, se possível americanas. Até agora, França e Reino Unido se dispuseram, mas Zelenskyy destacou no Salão Oval que a Europa “não estará pronta” sem o apoio dos EUA. Em outras palavras, eles só protegerão a Ucrânia se os EUA os protegerem primeiro.
Entra em cena o vaudeville desastrado de Macron-Starmer, que vinha cortejando Trump nas últimas semanas. A Rússia, é claro, não aceitará tropas da OTAN na Ucrânia a menos que o Conselho de Segurança da ONU — onde Moscou tem poder de veto — permita. O plano era garantir a anuência de Trump e então levar Zelenskyy a assinar o acordo relacionado aos minerais.
Isso me leva a acreditar que Zelenskyy nunca teve a intenção de assinar o acordo inicial de cessar-fogo sem garantias de segurança, considerando que, em sua experiência, elas “não funcionam”.
Um Domo de Ferro Ucraniano?
Na ausência de tropas americanas, Zelenskyy pediu a Trump um “apoio de defesa aérea”, ou o que equivale a escudos humanos da Europa e um Domo de Ferro fornecido pelos EUA. Ele não está errado em querer isso — mas é um risco. Se a Rússia atingir um desses postos, a tragédia pode escalar para uma catástrofe global dependendo dos passaportes das vítimas.
Portanto, Trump está certo: Zelenskyy está jogando os dados rumo à Terceira Guerra Mundial, encorajado por líderes europeus sem noção, reunidos pela antiga liderança americana em uma ilusão coletiva de poder. Suponha que a França envie um batalhão de 100 soldados à Ucrânia, e Putin — ou um de seus generais rebeldes — os ataque. E então? A França enviaria seu único porta-aviões? Talvez a Turquia permita que ele navegue até o Mar Negro. Putin pode afundá-lo com alguns mísseis hipersônicos, matando milhares de soldados franceses. Bem-vindo à Terceira Guerra Mundial.
Já sabemos o que Zelenskyy quer dizer com garantias de segurança. Agora precisamos saber o que Trump tem a dizer a respeito.
Concessões
Falando do Salão Oval, Zelenskyy declarou: “juntos [Ucrânia e EUA] podemos parar” Putin. Também insistiu que não haveria “nenhuma negociação com o assassino [Putin] sobre nossos territórios”. Enquanto isso, Trump deixou claro que algumas concessões devem estar na mesa.
A Ucrânia se recusa a aceitar um cessar-fogo sem garantias de segurança. Os EUA não podem negociar um acordo de paz com a Rússia se não houver um cessar-fogo em vigor. Enquanto isso, a Rússia só quer um cessar-fogo se receber suas próprias garantias. Trump afirma que pressionará para que a Ucrânia recupere o máximo de território possível, até sugerindo que eles possam retomar parte do litoral. É difícil imaginar a Rússia cedendo qualquer área. Lavrov (o Ministro das Relações Exteriores de Putin) acabou de reiterar a posição da Rússia: não haverá cessar-fogo “ao longo da linha de contato atual”.
Virão as concessões.
Problemas de Fluxo de Caixa
Durante a coletiva de imprensa, Zelenskyy mencionou uma suposta “regra de guerra” segundo a qual quem começa uma guerra deve pagar. Na realidade, é quem perde que paga. Ele está de olho nos US$ 300 bilhões em reservas congeladas do banco central russo — US$ 250 bilhões retidos na Europa, US$ 5 bilhões nos EUA e o restante na Ásia. Vale notar que esses são fundos do banco central, não de oligarcas ou corporações, então a Rússia vai lutar com unhas e dentes para reavê-los.
Já há um problema: supercolateralização. A Europa não está fornecendo dinheiro à Ucrânia por pura bondade. Sessenta por cento da ‘ajuda’ europeia são empréstimos que precisam ser pagos de volta. Zelenskyy está acumulando dívidas, contando que os bilhões congelados da Rússia sejam tomados para pagá-las. Isso está longe de ser garantido.
Somando UE e Reino Unido, temos um déficit fiscal anual de US$ 850 bilhões. A Europa também enfrenta uma crise demográfica, e há US$ 16,5 trilhões de endividamento, chegando perto de 100% do PIB. Não há muito espaço para perdoar empréstimos.
Zelenskyy ainda quer esses mesmos US$ 300 bilhões para reconstruir a Ucrânia, algo que o Banco Mundial estima em quase US$ 500 bilhões. Enquanto isso, a Rússia já anunciou planos de usar esses recursos para reconstruir as áreas sob seu controle.
Nesse contexto, o acordo de minerais de Trump parece bem razoável.
Trump Não Está Praticando Bullying Contra Zelenskyy — Putin Está
A guerra exige escolhas difíceis: às vezes, trocamos ‘paz em nosso tempo’ por ‘paz para o nosso tempo’. Zelenskyy precisa reconhecer que está entre a cruz e um moedor de carne gigante. A única saída é dar a Trump a negação plausível para conseguir concessões reais da Rússia.
A Ucrânia pode derrotar totalmente a Rússia sem provocar a Terceira Guerra Mundial? Certamente não. É melhor para os EUA intermediar um acordo mais cedo do que mais tarde.
É aqui que Trump precisa ser mais firme. Perguntado sobre tropas americanas na fronteira leste da OTAN, ele reafirmou o compromisso com a Polônia — ele gosta do fato de eles “pagarem sua parte justa”. Está menos entusiasmado em defender os Estados Bálticos. E, quando questionado sobre quem protegerá as áreas ricas em minerais no acordo se a Rússia atacar, ele não entrou em detalhes.
O que realmente está em jogo aqui não é apenas o território da Ucrânia ou conter as ambições da Rússia. Trata-se de restaurar a posição dos Estados Unidos como a grande potência mundial, especialmente agora que a China está mostrando seus músculos e a Europa tropeça em sua própria fraqueza. Devíamos nos importar mais com isso do que com o fato de Zelenskyy usar terno ou se J.D. Vance foi bonzinho com ele.
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Caro “Livre Abítrio” esta é a melhor (e adulta) análise que li sobre o conflito na Ucrânia. obrigado