O 'Great Reset' de Trump
A ordem liberal internacional já está fazendo hora extra, e Trump chegou para mandá-la passar no RH
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A chamada ordem liberal internacional ‘baseada em regras’ se caracteriza por ideais em que ninguém acredita e regras que ninguém segue. Há décadas, os EUA agem como seu tutor a contragosto — bancando a defesa do Ocidente, sustentando o comércio global e, em suma, tirando sangue de pedra para alimentar um vampiro decadente.
Ela prometeu paz por meio da diplomacia, riqueza através das fronteiras abertas e segurança por interesses mútuos. E o que entregou? Guerras sem fim e um mundo dependente de um tipo específico de liderança americana que esperavam ser forte o suficiente para carregar o fardo, mas nunca tão poderosa a ponto de forçar seus aliados a andarem na linha.
Disseram que a maré da ordem liberal elevaria todos os barcos. Em vez disso, ela afundou a classe média ocidental. Fábricas desapareceram, empregos foram enviados para países mais baratos, e regiões inteiras foram abandonadas à mercê de oligarquias estrangeiras, cujas grandes contribuições para o mundo foram a camiseta de 1 dólar e as respectivas alergias que causam em nossas peles.
O ‘Great Reset’ de Trump rejeita esse dogma esquizofrênico. É um realismo duro em que o interesse nacional supera sonhos globalistas utópicos. E o mundo está tremendo, não de terror — mas daquele calafrio profundo de quem acorda de uma anestesia geral.
A Mesa das Crianças
Vamos olhar para a Europa. Por décadas, eles jantaram à mesa dos adultos, degustando vinhos finos e discursando sobre as maravilhas da social-democracia, enquanto o Tio Sam arcava com as despesas que garantiam a sua sobrevivência. Trump se cansou dessa situação, e rebaixou os líderes europeus para a mesa das crianças. De onde seguem fazendo birra.
Enquanto os representantes de Trump e Putin discutiam um desfecho viável para a Guerra da Ucrânia na Arábia Saudita, os adolescentes geriátricos europeus se amontoavam em um lugar qualquer, fingindo relevância. A Europa, velha o suficiente para ser a avó dos EUA, agora se comporta como uma garota mimada — choramingando por atenção, ameaçando cortar os pulsos se o Papai não ceder. Culpa de uma procissão de líderes fracos e uma população mergulhada na apatia — um continente inteiro embriagado pelo ennui.
Mas alguns parasitas são piores que outros.
A Alemanha levaria a coroa como Imperatriz do Sacro Império dos Preguiçosos. Comecemos pela defesa, em que um estudo oficial calcula que os gastos militares do país ficaram cerca de 425 bilhões de dólares abaixo dos requisitos mínimos da OTAN entre 1990 e o início da década de 2020. Isso significa que os contribuintes americanos estão cobrindo uma conta três vezes maior que a ajuda à Ucrânia até agora, apenas para que os cidadãos alemães possam sentir-se seguros.
Os países bálticos e o bloco do Leste pagam mais do que sua cota justa na OTAN, pois sabem que a história de agressão da Rússia não é conto de fadas, mas uma ameaça real. O Reino Unido e a França podem estar devedores, mas pelo menos têm armas nucleares e forças armadas relevantes que podem atuar como defesa de primeira linha e dissuasão contra a Rússia.
A Alemanha não possui armas nucleares e apenas uma força militar modesta, sem sequer um único porta-aviões. O objetivo da OTAN pode ter sido manter a Alemanha relativamente inofensiva, mas isso só prova duas coisas: a Alemanha deveria priorizar seriamente o financiamento da aliança, e já passou da hora de uma reforma da OTAN.
E o que os EUA ganham por atuarem como salvadores da pátria teutônica? Um déficit comercial de 72 bilhões de dólares em 2024, enquanto a UE envia 50 bilhões de dólares para Putin todos os anos (com importações recordes de petróleo e gás), prejudicando ainda mais sua própria base industrial em busca de fantasias verdes.
Pax Trumpiana
“Nenhum presidente americano sacrificará Nova York ou Boston por Poznan ou Frankfurt”
Sergey Karaganov, Chefe do Conselho de Política Externa e de Defesa da Rússia
E então há a Ucrânia. A namoradinha traída da ordem liberal. Ela deu ao Ocidente sua juventude, beleza e seu coração — entregando armas nucleares em Budapeste 1994 em troca de feijões mágicos, flertando com a adesão à OTAN em Bucareste 2008, à UE em Maidan 2013 e o ‘inabalável’ apoio ocidental em Minsk 2014. Palavras vazias inscritas em alianças inexistentes.
Falando em palavras vazias, Zelenskyy não é um ditador, claro. Nem Trump é um autocrata, nem Putin é a reencarnação de Hitler. E não estamos na Segunda Guerra Mundial. Ao entrar nesse jogo de palavras, Trump está virando o tabuleiro para obter resultados concretos. A menos que você acredite que o sacrifício contínuo de centenas de milhares de vidas acabará invocando um milagre dos deuses pagãos, não há saída deste conflito que não envolva sentar-se com Putin para redesenhar o mapa e criar uma zona desmilitarizada que de fato mantenha a paz. Feio? Com certeza. Mas real.
Eu apostaria que eles vão chegar a uma ‘Federação Ucraniana’ — uma colcha de retalhos com miniestados alinhados ao Ocidente de um lado e à Rússia do outro, com uma zona neutra no meio. Uma vitória total da Ucrânia que restaure completamente sua soberania permanece o delírio que sempre foi. Trump lida com o mundo como ele é, não como gostaríamos que fosse. A hora de enfrentar a Rússia era antes de a guerra começar, mas a ordem liberal estava ocupada demais trocando tapinhas nas costas uns dos outros. Joe Biden com certeza nem tentou.

Conforme a poeira baixar, certamente a tensão voltará e conflitos poderão surgir, e é por isso que o Ocidente precisa de influência real na região (talvez um acordo sobre direitos de mineração?), quem sabe até a possibilidade de adesão à UE ou à OTAN para as regiões mais a oeste.
Qualquer coisa é melhor que a não-solução da ordem liberal. Tome, por exemplo, aquela criatura abjeta que algum taxidermista malévolo trouxe à vida e batizou de Boris Johnson, que, por pura presunção liberal, sabotou o acordo de paz de Istambul — achando que sanções e arrogância quebrariam a Rússia. Tudo o que conseguiu foram dois anos adicionais de guerra, a Ucrânia transformada em um cemitério ainda maior, e os contribuintes americanos gastando bilhões. Tudo por um empate.
Mais uma prova de que o ‘Reset’ está atrasado: de acordo com estimativas conservadoras, 99% dos 80 bilhões de dólares em ajuda dos EUA à Ucrânia são doações não reembolsáveis, enquanto 60% dos 50 bilhões da UE consistem em empréstimos que precisam ser pagos. Agora, Trump é o vilão por buscar um acordo de direitos minerais?
O papel dos EUA como grande tomador de riscos do Ocidente é grosseiramente subestimado. Os EUA são a rede de segurança do mundo, e ninguém agradece. Mesmo com Taiwan, Panamá e Groenlândia ganhando os holofotes, o interesse nacional dos EUA ainda inclui a segurança da Ucrânia — mas uma guerra sem fim não ajuda ninguém. O sonho liberal de uma Ucrânia democrática morreu há muito tempo. Trump está apenas enterrando o cadáver.
O Fim da Woketoberfest
Trump não está apenas promovendo seu “America First” — ele está convocando cada líder a criar coragem e colocar seu próprio povo em primeiro lugar. É feio, é indelicado, mas é necessário. Nenhum país jamais se salvou com esmolas, e o Tesouro dos EUA não é uma instituição de caridade.
O capitalismo liberal prosperou com a ideia de que, quando você estabelece as estruturas sociais adequadas — direitos de propriedade, liberdade de expressão, democracia etc. — a prosperidade econômica viria. Sempre e em todos os lugares. Mas, às vezes, a mão invisível pode estar amarrada às costas, e faltando alguns dedos. O populismo está invertendo esse roteiro: conserte a economia primeiro — em casa e no exterior — e os resultados sociais virão em seguida.
Nesse sentido, o ‘Great Reset’ de Trump não é apenas algum refinamento de políticas; é um acerto de contas — uma ‘Quarta Via’ após o fracasso definitivo da Terceira Via. Está abalando cada pilar apodrecido da velha ordem: abandonando a OMS, o Acordo de Paris, o Acordo Fiscal da OCDE; denunciando os blefes ultrajantes de derrotar a Rússia na Ucrânia, abraçar a política de uma só China e a solução de dois estados para o Oriente Médio.
Assim, Trump está mandando um recado para os integrantes do Fórum Econômico Mundial, os que almejavam promover o ‘Great Reset’ original: o botão de ‘Reset’ dele não só é maior, como funciona de verdade.
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