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Donald Trump pode, sim, ajudar a tornar a Europa grande novamente, mas isso só será possível se os líderes europeus abandonarem sua indignação seletiva e passarem a levá-lo a sério.
No passado, as advertências de Trump sobre a excessiva dependência europeia da energia russa, o perigo das políticas de fronteiras abertas e as possíveis consequências de negligenciar os gastos militares foram recebidas com desdém. Porém, após a invasão da Ucrânia, anos de estagnação econômica e uma crise migratória que já derrubou governos no Reino Unido, Itália, Alemanha e, possivelmente, em breve na França, faz sentido que a Europa finalmente dê atenção aos conselhos de Trump.
Desde o fim da Guerra Fria e, em especial, ao longo da última década, a Europa adotou um modelo econômico claramente insustentável. Esse modelo se baseia em energia barata da Rússia, déficits comerciais crescentes com a China, defesa subsidiada pelos Estados Unidos e um estado de bem-estar social inchado — ao mesmo tempo sobrecarregado e sustentado pela imigração em massa.
O resultado tem sido uma crise econômica permanente, que atrofiou a indústria e a infraestrutura do continente, comprometeu sua autossuficiência energética, erodiu a coesão social e minou sua capacidade de defender suas fronteiras. Até recentemente, esse sistema sobreviveu devido às taxas de juros artificialmente baixas e um endividamento crescente, mas seu fracasso agora está exposto diante do mundo.
A boa notícia é que Donald Trump é quem hoje dá as cartas no comércio internacional, oferecendo à Europa a escolha entre uma ‘mão vencedora’ e outra ‘perdedora’. A má notícia é que cabe aos líderes europeus fazer essa escolha.
A ‘mão vencedora’ seria uma parceria em que a Europa aumentasse suas compras de commodities energéticas dos EUA, expandisse seus gastos com defesa (adquirindo produtos da indústria bélica americana) e adotasse uma política comercial mais rigorosa em relação à China. Dessa forma, os EUA poderiam reduzir seu déficit comercial com os aliados europeus ao mesmo tempo em que ajudariam a reforçar a defesa e a independência energética europeias, mantendo potências antagonistas como Rússia e China em cheque.
A ‘mão perdedora’, por outro lado, significaria mergulhar em uma guerra tarifária que agravaria ainda mais a já combalida economia europeia.
Em 2018, a UE optou por esse caminho perdedor ao rejeitar as tentativas de Trump de negociar uma relação comercial mais equilibrada e, em resposta às tarifas americanas, aumentou os impostos de importação sobre produtos dos EUA — uma jogada que, em última instância, prejudicou a própria economia europeia. Agora, porém, a UE tem outra chance de escolher um rumo mais inteligente.
Os EUA já são o maior fornecedor de gás natural liquefeito (GNL) para a Europa, o que mostra que um aumento no comércio de energia, especialmente se substituir o gás russo, não só é viável como também mutuamente benéfico. Durante seu segundo mandato, Trump está priorizando a exploração dos recursos energéticos dos EUA, com foco no Alasca e na Plataforma Continental Externa (uma espécie de ‘pré-sal’ americano). O crescimento da demanda europeia pode acelerar os investimentos necessários para esse plano.
É verdade que elevar os gastos com defesa na Europa representa um desafio maior, devido aos déficits orçamentários crônicos e aos processos de licitação extensos e nebulosos típicos de muitos países do bloco. Mas, com Putin cada vez mais agressivo, talvez seja hora de a Europa estabelecer prioridades enquanto ainda pode.
Outro ponto crucial seria o alinhamento europeu com os esforços de Trump para combater as práticas comerciais predatórias da China. Embora a grande maioria das investigações de violações comerciais da Comissão Europeia (principalmente nos casos antidumping) tenha como alvo a ditadura de Xi Jinping, a UE se vê como uma espécie de bastião autoproclamado do ‘livre-comércio liberal’. Essa postura, embora pouco condizente com a realidade, serve para massagear o ego do eurocrata médio.
Hoje, o déficit comercial entre os EUA e a Europa é de cerca de 150 bilhões de dólares, menos da metade do déficit de 300 bilhões de dólares que os Estados Unidos têm com a China. A UE, por sua vez, enfrenta um déficit semelhante com a China, de aproximadamente 291 bilhões de dólares. Esses números reforçam a vocação de europeus e americanos como parceiros naturais e mostram que, ao unir forças, ambos podem se beneficiar às custas de seus adversários comuns.
É provável que uma aproximação europeia aos planos de Trump provoque a China a impor suas próprias tarifas. Entretanto, se a Europa estiver atenta às intenções de Trump, a questão não é ‘se’ a UE será arrastada para uma guerra comercial, mas ao lado de quem ela estará.
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, parece ter clareza quanto a isso, pois já aconselhou os líderes europeus a negociar e “comprar produtos americanos para evitar uma guerra comercial com Trump”. O mesmo ponto de vista foi manifestado recentemente em Davos por Jamie Dimon, CEO do banco JP Morgan Chase, que classificou a estratégia de Trump como eficaz para “trazer as partes para a mesa de negociação”.
Agora, cabe aos líderes europeus adotarem uma postura diferente diante de Trump: abandonar o desprezo infantil e enxergar as oportunidades que ele traz. Se trabalharem em conjunto, poderão retirar a Europa do caminho da vulnerabilidade econômica e irrelevância geopolítica, rumo à segurança energética, à prosperidade econômica e ao fortalecimento militar.
Em outras palavras, terão a chance de realmente fazer a Europa grande novamente.
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