Em 15 de novembro de 1889, o Brasil fez o R.
Para Marx, a história se repete como tragédia. Para Mark Twain, a história não se repete, mas rima. Já para o brasileiro, a história é uma série de trocadilhos infames.
Em 1889, quem perdeu com o fim da escravidão convenceu o isentão a inventar a democracia brasileira.
Já em 2022, quem perdeu com o fim da corrupção convenceu o isentão a salvá-la.
Porque escravidão é corrupção. Em sua pior forma.
Em ambos os casos, acabamos com um cachaceiro de reputação duvidosa no poder. E com poderes ditatoriais sobre o Congresso e a Justiça nunca dantes vistos…
O STF já existia, assim como o Senado Federal. As instituições funcionaram perfeitamente durante o golpe.
Então, como agora.
Só não existia o TSE ainda. Invenção do democrata-mor, Getúlio Vargas.
Mike Tyson dizia que todo mundo tem um plano até levar um soco na cara. Exceto o isentão, cujo plano é levar o tal soco na cara.
Só para poder dar a outra face em sinal de virtude. E o que acontece depois que as duas caras do isentão já estão castigadas? Ele vira pra você e diz que é a sua vez.
Mas, proclamamos a república pra que mesmo?
Para que os nobres deixassem de ser políticos e os políticos passassem a viver como nobres.
A Proclamação da Reprivada.
Com apoio total dos generais-melancia da época, Coronel Benjamin Constant e Marechal Deodoro da Fonseca.
Trocamos os Orleans e Bragança pelos Sarney e Barbalho.
O Conde d’Eu pelo ministro taxou.
Malandro foi Ruy Barbosa, que já nasceu de bigode.
E inventou o Encilhamento, tornando-se o primeiro ‘pai do PAC’.
E, para quem ainda não havia entendido do que se tratava, Floriano Peixoto finalmente proclamou nossa República das Bananas em 1892. Com o STF, com tudo.
Anos antes, Joaquim Silvério dos Reis foi nosso primeiro Palocci, pioneiro da delação premiada. E Tiradentes, o Inri Cristo original.
O Visconde de Ouro Preto, baluarte liberal, sagrou-se fundador espiritual do MBL.
E Quintino Bocaiuva foi o primeiro piá de prédio. Uma inconsistência arqueológica e arquitetônica.
Pintaria o cabelo de azul, se tal tinta já existisse. Seu Manifesto Republicano foi a primeira Carta pela Democracinha de nossa história.
“Precisamos proclamar a república, diz especialista.”
Joaquim Nabuco, que já era isentão antes de virar modinha, fez o R e se arrependeu depois.
Quando percebeu que trocamos o estado confessional católico pelo ‘estado laico’ positivista. Nada mais progressista.
O ‘estado laico’ de José do Patrocínio, que tinha o patrocínio da maçonaria.
No papel, trocamos a monarquia pela democracia. Na vida real, passamos da aristocracia à oligarquia sem experimentar nem um só dia da tal democracia. Como já previra Políbio.
Ser governado por uma oligarquia, o que o isentão considera completamente normal.
Já que Dom Pedro II fazia arminha com a mão. Com as duas mãos. Tanto que apontou os canhões contra a Marinha Britânica em seu auge. E a Rainha Vitória arregou.
Você não aprende a dançar sem dar uns tiros no pé.
Mas, a sociedade polida não acha limpinho defender a monarquia. Limpinho é só copiar os Estados Unidos.
“Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!” Mas, nossa ave nacional não é a águia, é o sabiá-laranjeira. Que tem as asas curtinhas…
Então fundaram os Estados Unidos do Brasil sem o menor vestígio de ironia ou senso de ridículo.
Republique-se.
Se a Independência foi nosso Cisma de 1054 — uma disjunção de gigantes; a República foi nossa Reforma de 1517 — uma confluência de anões.
Um golpe tão sapatênis que os isentões não tiveram nem a decência de cortar a cabeça do rei.
Mas, não dá pra bater na porta de algum Bourbon de Orleans e Bragança agora e falar: “Le roi est mort, vive le roi!”
Vou-me embora pra Petrópolis
Lá sou amigo do rei.
Tem como desproclamar uma república? Júlio César tentou e acabou inelegível. Pra sempre.
É o que os americanos chamam de path dependence. Dilma explica: “depois que a pasta de dentes sai do dentifrício ela, dificilmente, volta pra dentro do dentifrício”.
Já Machado de Assis nos explicou que Dom Pedro II “fazia do trono uma cadeira”.
Nosso rei-filósofo que, em prantos, celebrou a abolição — “Demos Graças a Deus! Grande Povo! Grande Povo!” — mesmo sabendo que seria a sua ruína.
E que uma vez recebeu a extrema-unção e voltou pra contar história. Chame de Sebastianismo tardio se quiser, mas talvez haja esperança para o Brasil.
Meu livro “Primavera Brasileira” está disponível na Amazon (em versões eBook e física),, um livro de frases com a crônica do processo eleitoral (por falta de palavra melhor) que o Brasil sofreu em 2022.
Perfeito. O Brasil nunca foi uma democracia, passou de uma monarquia que funcionava mais ou menos bem para uma oligarquia que mantém o Brasil atrasado até hoje.
Triste dia.