"Cabeleireira Tentou Golpe de Estado"
Corrupção é democracia, repressão é justiça e vandalismo é golpe
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“A cabeleireira Débora Rodrigues Santos cometeu o crime de tentativa de golpe de Estado”
Raquel Landim, ‘jornalista’
Débora dos Santos, protagonista da ópera bufa brasileira A Cabeleireira de Paulínia, não foi condenada a 14 anos de prisão só porque pichou uma estátua com batom. Eu preferiria que tivesse sido o caso.
Mas não. A justificativa real para tamanha pena é ainda mais absurda, como a mídia se apressa em esclarecer: Débora foi condenada por tentar abolir o Estado Democrático de Direito no Brasil. Um crime impossível de ser praticado por ela.
Impossível — assim como, até bem pouco tempo atrás, era imaginar jornalistas, alguns do suposto primeiro escalão, acreditando que cabeleireiras podem dar golpes de Estado. Que seriam ingênuos o suficiente para acreditar nisso de verdade — ou psicopatas o bastante para fingir que acreditam.
Ou imaginar que, em tão pouco tempo, o duplipensar — o processo de lavagem cerebral descrito por Orwell em que o regime leva as pessoas a crer simultaneamente em duas ideias contraditórias, como nos lemas: “Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força” — se tornaria prática corrente na imprensa tupiniquim.
Nossos jornalistas agora acreditam que os processos da Lava Jato podem ser anulados por inconsistências de foro; mas que os envolvidos no 8 de janeiro — nenhum com foro privilegiado — podem ser julgados diretamente pelo STF, sem problema algum.
Acreditam que a troca de mensagens entre procuradores e juízes da Lava Jato inviabilizou um julgamento imparcial; mas não veem problema em Moraes atuar como juiz, promotor e suposta vítima no Inquérito do Fim do Mundo.
Acima de tudo, acreditam na legitimidade de um regime corrupto que subverteu todas as bases do processo legal e da democracia; enquanto rotulam de ‘golpista’ qualquer um que se insurja contra ele.
Toda a narrativa do suposto ‘golpe de Estado’, que domina as manchetes da mídia tradicional pelos últimos dois anos, não passa de uma piada macabra. Um caso clássico do que Slavoj Žižek chama de negação fetichista: “Eu sei que é absurdo, mas não quero saber que sei, porque isso me prejudicaria. Então finjo não saber.”
A conspiradora de ocasião é uma cabeleireira do interior. Não teria meios de depor nem o síndico do próprio prédio — quanto mais um presidente notório por comandar o maior esquema de corrupção da história e com as costas quentes no Judiciário e nas Forças Armadas. E mesmo assim, a imprensa insiste: ela é a ameaça, ele é a salvação. Sabem que é absurdo, mas preferem fingir que não sabem.
Aqueles que deveriam zelar pela verdade viraram leões-de-chácara de lupanário. A cada manchete sobre ‘golpe’ evitado, reforça-se a fantasia de que vivemos em um pleno Estado democrático de direito. A crítica se resume a editoriais tímidos denunciando os ‘excessos’ do regime como se fossem anomalia — e não o próprio espírito do regime. Talvez por temer retaliações de um STF que, há muito, já se assumiu político e demonstra não ter qualquer pudor em rasgar a Constituição ao perseguir seus inimigos.
A mídia se acomodou em uma câmara de ressonância, onde repete sem parar os mantras de que os abusos institucionais não passam de atos de defesa da democracia e que silenciar vozes ou manipular leis em benefício de alguns é apenas uma resposta heroica para tempos turbulentos.
Mas nada captura melhor o desvario moral do nosso tempo do que essas duas palavras: “sem anistia”. Soa forte e categórico. Mas é um slogan vazio — tão vazio quanto a acusação de golpe de Estado contra uma cabeleireira.
Que esse termo pusilânime e ilegal caia da boca de tantos — imprensa, políticos, tribunais — deveria nos horrorizar. Sinaliza a vitória da complacência sobre a verdade. Confirma que tudo — a lei, a moral, a lógica — se tornou submisso à autoilusão da elite que se imagina salvadora da democracia.
Eles repetem “Sem anistia!”, como membros de uma seita fanática, sem perceber o quão insanos parecem em sua sanha sanguinária, quando muitos deles (ou de seus asseclas) foram anistiados por roubo a banco, sequestros e envolvimento com a guerrilha armada.
Jornalistas que testemunharam cada passo da Lava Jato — todas as investigações, denúncias, condenações e prisões —, em muitos casos aplaudindo os avanços no combate à corrupção, depois assistiram a tudo ser desfeito pelo STF, que abusou de medidas autocráticas e atropelou a Constituição para reconduzir os mesmos criminosos ao poder. E a isso, agora, chamam de defesa do Estado de Direito. Quem ousa apontar essa contradição, vira imediatamente ‘extremista’ ou ‘golpista’.
Como no Ministério da Verdade de Orwell, onde editores reescrevem o passado para se alinhar à ideologia do presente, aqui se apagam fatos e se substituem por dogmas fabricados. Sem anistia para a verdade.
Boa parte da imprensa hoje se resigna a uma falsa dicotomia entre ‘salvar a democracia’ e noticiar os fatos. Ignora que o povo, por meio das redes sociais, tem cada vez mais acesso direto aos dados concretos da realidade.
Por isso, é urgente afirmar: sim, é perfeitamente aceitável se revoltar ao ver os corruptos voltando à cena do crime. E até defender que alguém faça algo a respeito.
O que está em jogo é nosso direito de dizer a verdade. De afirmar que a realidade objetiva importa mais do que os sentimentos da elite política — esta sim, com os meios concretos para dar um golpe de Estado. Se a democracia significar algo, significa poder usar a verdade para ferir esses sentimentos.
E, se a verdade ainda vale alguma coisa, é que uma cabeleireira jamais teve a menor condição de tentar dar um golpe de Estado.
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As penas do 08/01 são uma boa e velha estratégia de desmoralização. Nesse ponto considero o pessoal do "sem anistia" pior do que o pessoal do tribunal de exceção, porque estes sabem que estão fazendo o mal e deliberadamente o fazem, porém aqueles nem sequer identificam o mal como mal, de tão cegos que estão pela ideologia.
Esse é apenas um recado do STF para que o povo não se oponha e não se manifeste contra. Seria um cala a boca para o povo não se atrever novamente... Mas todos, inclusive eles sabem que esse é um absurdo e um exagero injusto...