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O Brasil nunca foi colônia de Portugal.
A partir de 1500, o Brasil foi um estado, província ou reino de Portugal. Éramos parte do mesmo império, país e nação, compartilhando uma história comum até a independência em 1822.
Não se trata de negar que as relações político-econômicas entre Portugal e Brasil fossem idênticas às de metrópole e colônia em tudo, exceto no nome. Mas o nome que damos às coisas é algo fundamental e, neste caso, representa o espírito da nossa relação com a Criação e a essência do que entendemos como pátria.
O termo ‘colônia’ é um anacronismo de origem anglo-saxã, uma palavra que entrou mal e tardiamente no vernáculo da língua portuguesa ao final do século XVIII. É um termo conveniente tanto para a historiografia marxista, que deseja enquadrar a história do Brasil dentro de uma estrutura dialética de luta de classes entre colonizados e colonizadores, quanto para a historiografia liberal, que vê a história do Brasil à luz do modelo dos Estados Unidos.
Segundo esta última perspectiva, a história brasileira seria uma versão fraca e distorcida da história americana. Nossa ‘guerra pela independência’, foi uma série de conflitos mambembes que culminaram em um acordo entre aristocratas. Não tivemos pais fundadores, mas sim um grupo de burocratas que defendiam interesses que coincidentemente se alinhavam com os da nação naquele breve momento.
Para esses historiadores, o pecado original de nossa história só pode ser redimido pela busca do grande sonho americano, preenchendo uma lacuna ideológica, como se o Brasil nunca tivesse tido um propósito próprio.
À medida que (finalmente) nos distanciamos cada vez mais da visão maniqueísta da história marxista, corremos o risco de adotar essa versão ‘americanista’ de nossa história, promovida pelos que se dizem ‘conservadores na economia e liberais nos costumes’. Nada melhor do que comparar os processos de independência de ambos os países para ilustrar esse erro e essa armadilha.
Os Estados Unidos surgiram com sua independência, com a Declaração de 1776 servindo como sua certidão de nascimento. O Brasil, por sua vez, nasceu com o Descobrimento, tendo a carta de Pero Vaz de Caminha como certidão de nascimento. Até a independência, as treze colônias americanas eram, de fato, colônias—entes separados, mas pertencentes à Coroa Britânica, não um país, mas um conjunto de lotes de terras.
O Brasil, contudo, desde o Descobrimento foi parte integrante do Reino português. Não uma propriedade, mas uma extensão de Portugal. Nesse aspecto, a independência do Brasil foi fundamentalmente diferente da americana: foi um movimento separatista.
Pense no caso da Virgínia, uma das mais antigas das treze colônias e atual estado americano. Foi estabelecida como um empreendimento comercial em 1606 por entidades privadas, mas subjugada à Coroa Britânica. Compare isso com o modelo das capitanias hereditárias, que obedeciam a um sistema feudal, pertencendo à nobreza portuguesa, inclusive com títulos próprios.
Outro aspecto interessante a notar é que as capitanias hereditárias começaram a ser estabelecidas na década de 1530, quase 80 anos antes de a colonização americana ter início. E por que isso é importante?
Porque, ao contrário do Brasil, filho pródigo das épicas navegações portuguesas, a origem dos Estados Unidos não teve nada a ver com a grande aventura do descobrimento.
A América já era conhecida há muito quando os ingleses começaram a realizar missões burocráticas e meramente comerciais, estabelecendo colônias sem unidade ou identidade própria no continente.
Os Estados Unidos nasceram como embriões in vitro dos interesses mercantilistas, sem personalidade ou identidade definida, que só começou a se formar durante a luta pela independência—tanto que adotaram o lema ‘e pluribus unum’ (‘de muitos, um’), algo que não faria sentido para o Brasil, que sempre foi ‘unum’, com sua identidade já formada desde o descobrimento. O Brasil sempre foi o Brasil, desde os tempos da Ilha de Vera Cruz.
Thomas Paine, um dos pais fundadores dos EUA e frequentemente citado por Ronald Reagan e seus fãs, capturou o destino manifesto americano ao dizer: “Temos ao nosso alcance o poder de recomeçar o mundo.” Assim, o mundo americano nasce na independência — um país laico sob a égide da ética protestante e o espírito do capitalismo, encarando o futuro como uma página em branco.
Por sua vez, Pero Vaz de Caminha expressou nosso destino manifesto em sua Carta ao Rei D. Manuel I: “o melhor fruto que se pode colher desta terra me parece que será salvar esta gente”. O mundo brasileiro já existia antes do descobrimento, talvez desde o ato da Criação. Um país batizado católico, salvo do pecado original pelo sacrifício daqueles que contemplavam no futuro o reino de Deus na terra.
São dois Jardins do Éden, portanto. Ao norte, a tabula rasa de John Locke, contemporânea, libertária e secular; ao sul, a Cidade de Deus de Santo Agostinho, eterna, redentora e divina.
Por isso, é crucial reconhecer que, acima das considerações político-econômicas, o Brasil nunca foi uma colônia em espírito e personalidade. Uma verdadeira historiografia conservadora deve resistir a interpretar nossa independência através das lentes da historiografia ‘americanista’ ou da marxista, onde não somos protagonistas de nossa própria história, mas uma imitação deficiente do experimento americano para a primeira, ou uma vítima de Portugal para a segunda.
A Ínclita Geração
“Homens fortes criam tempos fáceis. Tempos fáceis criam homens fracos. Homens fracos criam tempos difíceis. Tempos difíceis criam homens fortes...”
A ‘Ínclita Geração’ portuguesa, alcunha coletiva dada aos filhos do Rei Dom João I, quebrou esse ciclo vicioso, iniciando uma sequência de três séculos com grandes homens (e mulheres) que elevaram o Império Português a grande potência mundial, impulsionando a maior aventura da história da humanidade: as grandes navegações rumo ao desconhecido.
Por isso, assim foram imortalizados por Luís Vaz de Camões em seu épico Os Lusíadas.
Dom João I, após derrotar os castelhanos na Batalha de Aljubarrota e consolidar o Reino de Portugal sob a Dinastia de Avis em 1385, lançou-se à conquista de Ceuta, no norte do Marrocos, em 1415.
A partir dessa conquista, Portugal começou a desbravar toda a costa da África, construindo portos, estabelecendo relações diplomáticas com reinos locais e dominando as rotas comerciais. Mais do que isso, empreendeu na catequização dos nativos e na coleta de inteligência sobre o relevo, os ventos, a fauna, as marés, idiomas e povos. Informações mantidas como segredos de estado por Portugal, guardadas a sete chaves e protegidas por leis que previam pena de morte para quem as divulgasse.
O idealizador e líder dessa operação foi o Infante Dom Henrique, príncipe de Portugal e um dos filhos do meio da Ínclita Geração, nascido numa Quarta-Feira de Cinzas. Infante Dom Henrique destacou-se pela bravura em Ceuta, liderando a armada portuguesa em batalha após seu pai ser gravemente ferido.
Ele fundou a Escola de Sagres, que mais que uma escola, era uma espécie de Vale do Silício da época, reunindo alguns dos maiores navegadores, engenheiros, militares e acadêmicos do mundo para desenvolver e implementar a estratégia de expansão marítima portuguesa.
Talvez mais importante tenha sido seu papel como governador da Ordem de Cristo, a ordem religiosa e militar católica herdeira da Ordem do Templo, os cavaleiros templários, grandes responsáveis pelas Cruzadas.
Sob a tutela do Infante Dom Henrique, os portugueses lançaram-se ao mar não apenas em nome da Coroa, mas também pela ciência e com a cruz da Ordem de Cristo estampada em suas velas, colocando-se como sucessores dos cruzados e dos apóstolos gentios, seguindo os passos de São Paulo.
E assim começava a história do nosso Descobrimento. Nosso mito fundador não foi uma guerra pela independência ou civil, mas sim a conquista da natureza desconhecida, magnífica e hostil. As grandes navegações foram o fórceps que trouxe o Brasil ao mundo.
Nossos pais fundadores, portanto, não vestiam perucas pomposas em salões luxuosos. Eles eram soldados, padres e poetas, empunhando a cruz, a espada e a palavra, enfrentando piratas e hordas de infiéis em terras distantes. Em vez de matarem uns aos outros dentro de nossa própria casa, lutavam contra o escorbuto nos porões das caravelas.
Nossos pais fundadores foram homens como Bartolomeu Dias, Diogo Cão, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
Bartolomeu Dias, para dobrar o Cabo das Tormentas em 1488, lançou seu navio rumo à ‘grande escuridão verde’—como era conhecido o Oceano Atlântico—navegando por trinta dias na direção contrária à recomendada pela lógica e prudência. Virou seu navio em direção ao desconhecido, confiando em Deus e levando a ciência ao seu limite. Lembre-se, naquela época, já se sabia teoricamente que a terra era um globo, mas ninguém havia confirmado isso na prática.
Após sua jornada, o Cabo das Tormentas foi rebatizado como Cabo da Boa Esperança, uma mudança que simboliza o impacto dos feitos portugueses pelo mundo.
Outro dos nossos pais fundadores, Duarte Pacheco Pereira, tentando replicar a manobra de Bartolomeu Dias, navegou para oeste com tamanha amplitude que acabou por chegar às terras brasileiras já em 1488.
Duarte Pacheco Pereira também se destacou por ser pioneiro no uso das fases da Lua para prever o comportamento das marés. Entretanto, entrou para a história como o “Aquiles português”, apelido que Camões lhe deu em Os Lusíadas por seu papel heroico ao liderar 500 homens e derrotar um exército inimigo de 85 mil, defendendo o entreposto português de Cochin na Índia.
Entre nossos pais fundadores está também Vasco da Gama, o Cruzado dos Mares, que derrotou Cristóvão Colombo e tornou-se Almirante das Índias em 1498, título que o navegador genovês jamais obteve por nunca ter alcançado as Índias.
A própria missão de Colombo às Américas em 1492 foi inicialmente oferecida a Dom João II, sobrinho-neto do Infante Dom Henrique, que, já possuindo todos os mapas e tendo pleno conhecimento do novo continente, a dispensou sem maiores ressalvas.
Dom João II também foi responsável pela assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494, prova documental da luta de Portugal contra tudo e todos para desbravar o mundo, ao evidenciar o apoio papal à Coroa Espanhola dos reis católicos Fernando e Isabella — favorecidos pelos papas da linhagem Borgia, originária de Valência, na Espanha.
A grande motivação de Dom João II nunca foi comercial ou colonizadora; ele almejava alcançar o outro lado do mundo em busca do mítico rei cristão do oriente, Prester João. Conhecido desde os tempos bizantinos por suas lendas de feitos militares e riqueza, Prester João representava a esperança portuguesa de formar uma aliança para derrotar os reinos muçulmanos e reconquistar a Terra Santa.
Para tal fim, Dom João II montou uma rede de espiões altamente qualificados, com habilidades militares, de navegação, linguísticas e diplomáticas, para coletar informações sobre como encontrar Prester João. Entre esses ‘James Bonds’ renascentistas destacaram-se Pero de Covilhã e Afonso de Paiva, que viajaram por terras desconhecidas, infiltraram-se em cortes inimigas, foram capturados e envolveram-se em fugas espetaculares. Infelizmente, nossos historiadores fãs de Paulo Freire, têm feito um excelente trabalho em ocultar esses fatos e tornar a história portuguesa cada vez menos interessante.
Não podemos esquecer de muitos outros pais fundadores como Diogo Cão, explorador e aventureiro, que subiu os rios da África, desbravando o ainda desconhecido continente; e Pedro Álvares Cabral, grande comandante, diplomata e gênio militar, líder de alguns dos maiores feitos de Portugal nos quatro cantos do mundo.
As Grandes Navegações também levaram em seus navios poetas e escritores como Pero Vaz de Caminha e Luís Vaz de Camões, e até mesmo santos como São Francisco Xavier, o apóstolo do Oriente, que salvou quase tantas almas quanto São Paulo.
A história portuguesa na Ásia é de uma riqueza absoluta, desde as conquistas de Goa, Calicute e Macau, até a fundação do porto de Nagasaki no Japão.
A Verdadeira Independência
Portanto, se tentássemos estabelecer um paralelo, ainda que forçado, entre a história do Brasil e a dos Estados Unidos, o Brasil seria comparável a uma das ‘treze colônias’, incluindo Angola, Moçambique, Cabo Verde, Goa, Macau, Timor, Guiné… revelando um grande império moreno que abraçava o mundo ao redor da cruz, algo jamais visto antes ou depois! Uma potência, sucessora digna do Império Romano e uma ameaça formidável à Inglaterra.
Portugal, Brasil e o Mar: imitando o Pai, o Filho e o Espírito Santo, três pessoas distintas, mas unificadas em uma única essência. O Brasil descoberto, não fundado, consubstancial a Portugal, como no Credo Niceno que lhe deu o sopro da vida.
Em uma outra história, poderíamos imaginar o Brasil como um novo Adão, a Inglaterra — e sua maçonaria — como a serpente, e a independência como a maçã.
A maçã que continuamos a morder. Aceitamos narrativas pseudo-anticoloniais que não nos pertencem, perdidos entre as cosmovisões marxista e liberal/americanista que, apesar de opostas na superfície, têm o objetivo comum de extirpar todo o significado de nossa história, relegando-nos ao papel de coadjuvantes passivos, em um estado perpétuo de ‘dependência condicionada’, vagando pela história entre períodos de subserviência ou fracasso, sem nada para preencher o vácuo.
E a questão-chave dessa situação é o mito fundador do Brasil ‘perdedor’, o conto do vigário de que Portugal chegou ao Brasil por acaso e decidiu nos tornar uma colônia de extrativismo baseado na escravidão. Usando a nossa independência para justificar a morte dessa tenebrosa história.
Mas, a história conjunta de Brasil e Portugal mostra que não chegamos aqui por acaso, e nunca fomos uma colônia. Não existe como nos independer dessa história. Porque ela é verdadeira. E é nossa.
Talvez nossa história tenha detalhes que ignorei e outros que embelezei. No entanto, o que é certo é que ela não pode ser uma caricatura diluída da história americana, ao ponto de não conseguirmos imaginar um futuro que não seja uma réplica, vazia e diluída, do sonho americano.
Essa é a verdadeira independência que devemos almejar hoje.
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Abaixo-Assinado Pelo Impeachment do Moraes
Até agora, mais de 1 milhão e 414 mil pessoas já assinaram!
Meu livro “Primavera Brasileira” está disponível na Amazon (em versões eBook e física), um livro de frases com a crônica do processo eleitoral (por falta de palavra melhor) que o Brasil sofreu em 2022.
Para Santo Agostinho, um povo sem memória é um povo sem esperança.
O marco da fundação da Terra de Santa Cruz foi a celebração de uma Santa Missa, em Santa Cruz Cabrália, na manhã do dia 26 de abril de 1500. Somos uma nação única nos planos de Deus, e nosso reerguimento – moral, cultural e religioso – dependerá da consciência de nossa missão enquanto nação.