Em Defesa do Terraplanismo
Ao se desvencilhar de suas origens pseudocientíficas ateístas, o Terraplanismo tornou-se o movimento filosófico mais fascinante no mundo atual
A Terra é redonda. Melhor ainda, a Terra é um elipsoide irregular, uma esfera um pouco mais gordinha ao redor do equador. Parecida com uma bola de futebol após ser atropelada por um caminhão, imagino eu. É bom esclarecer isso primeiro.
Em uma época em que a ciência é reverenciada como uma espécie de divindade pagã que, frequentemente, assume forma humana para exigir seus tributos — às vezes como Átila Iamarino, às vezes como Greta Thunberg — me sinto obrigado a primeiro declarar que não pertenço ao grupo de hereges que acreditam que a Terra pode ser plana. É uma idéia estúpida. Todo mundo sabe disso. Mas nem sempre foi assim.
Ao contrário da escrita, astronomia, matemática e agricultura, a noção de uma Terra esférica não surgiu independentemente em diferentes culturas. Ela surgiu apenas uma vez na história1. O grego Eratóstenes provou que a Terra era esférica por volta de 240 a.C. em Alexandria, hoje no Egito. A partir daí, a idéia se espalhou para a Índia, o mundo islâmico, a China e assim por diante.
Terraplanismo como pseudociência ateísta
"Quando um sábio aponta para as estrelas, um idiota olha para a ponta do seu dedo."
Provérbio chinês
Em uma declaração meticulosa de amor-próprio, pessoas de intelecto incompleto se dedicam ao bullying dos terraplanistas porque isso as faz se sentirem mais inteligentes em comparação. Isso lhes proporciona uma válvula de escape de uma realidade inexorável: eles são apenas parasitas intelectuais. E eles não percebem que se baseiam em uma idéia terrivelmente equivocada, a de que todos os terraplanistas pensam igual.
Os terraplanistas estão, em plena luz do dia, promovendo uma idéia que todos sabemos ser falsa. Exceto que, por nós mesmos, não sabemos exatamente como demonstrá-la ser falsa. Sabemos que é falsa porque nos disseram a verdade. Mas a inteligência não está apenas em saber a resposta certa, mas — e mais importante — em saber como chegar a ela. Todos sabemos que a Terra é redonda — e fomos expostos a evidências bastante conclusivas sore este fato — , no entanto, poucos de nós podem realmente demonstrar essa verdade.
É importante separar o Terraplanismo, a pseudociência, do Terraplanismo, o movimento filosófico
Portanto, é importante separar o Terraplanismo, a pseudociência, do Terraplanismo, o movimento filosófico. O Terraplanismo — como pseudociência — é uma proposição eminentemente ateísta, derivada dos trabalhos do filósofo ateu Epicuro, que buscava desmoralizar as práticas pagãs de adoração ao Sol e à Lua, retratando-os como fenômenos atmosféricos, em vez de corpos celestes.
Para Epicuro, a ciência não era um método para descobrir as verdades do mundo físico, mas um exercício voltado para sustentar uma determinada moralidade. A mesma moralidade objetiva e mística fundamenta o ateísmo moderno. Não deve ser surpresa que o Terraplanismo e o ateísmo compartilhem raízes comuns.
Mas como a cosmologia ateísta de Epicuro é consistente com uma Terra plana? A ética epicurista também é conhecida como 'hedonismo egoísta', pregando que o propósito da vida dos seres humanos é experimentar prazer. Quando os seres humanos são confrontados com a perspectiva de punição e julgamento em um ‘além’, esse propósito é minado pela angústia, devido ao 'medo da morte'. Portanto, para ser consistente com sua ética, Epicuro propõe um universo materialista, sem fontes metafísicas de moralidade.
Assim como acontece com o ateísmo, a ciência epicurista é marcada por imperativos morais arbitrários. Isso, é claro, vai contra o mundo aristotélico em que vivemos — Aristóteles, ele próprio, sendo o principal filósofo monoteísta — onde há uma clara diferenciação entre ciência, filosofia e metafísica. Explicar o funcionamento do mundo natural não pode ser alcançado apenas explicando a ética desse mundo, como Epicuro estava tentando fazer.
Tanto a idéia aristotélica de "propósito" quanto a idéia estóica de "logos" — ou Razão Divina — são claramete compatíveis com uma Terra redonda, o que Aristóteles aceitava, mesmo que erroneamente acreditasse que todos os objetos fossem atraídos para o centro da Terra — que, para ele, era o próprio centro do universo. Tais idéias estavam na base que perdurou em grande parte do pensamento religioso subsequente.
Para contrariar a isso, um modelo ateísta de Terra plana foi defendido por Epicuro e Lucrécio, entre outros. Na cosmologia ateísta epicurista, tempo e espaço eram um contínuo sem fim ou começo (semelhante à doutrina ateísta de 'recorrência eterna' que Nietzsche desenvolveria — o qual, ironia das ironias, pregava que o tempo possuía forma, a qual seria uma “circunferência plana”). Em um universo assim, não haveria limites para o mundo material, nem nada além dele. Tudo o que existe é material, sem necessidade de metafísica ou sobrenatural.
E assim é derivada a idéia pseudocientífica de uma Terra plana. Para ser consistente com a gravidade, os átomos nesse modelo continuariam caindo em um vazio sem fim, a menos que enfrentassem alguma resistência. Uma Terra esférica significaria que a matéria apenas escorregaria pelas bordas e continuaria caindo no vazio. Uma Terra plana, por outro lado, forneceria resistência e manteria a matéria em sua superfície, enquanto a própria Terra continuaria caindo no vazio (daí 'explicando' os movimentos cosmológicos da Terra).
Dessa forma, a afirmação moral objetiva de Epicuro de que não existem deuses precipita tanto um universo infinito quanto uma Terra plana, conceitos que foram refutados pela ciência repetidamente; uma estrutura pseudocientífica completa projetada de forma retrógrada para apoiar um princípio ético: a suposição religiosa do ateísmo.
Terraplanistas, os bobos da corte, gritando verdades aos poderosos
Os epicuristas não se oporiam à ideia de livre-arbítrio. Em seu modelo, embora o tempo fosse recorrente e o universo infinito — com a matéria constantemente em movimento — , o livre-arbítrio ainda poderia surgir ao se assumir a existência de "aleatoriedade" no sistema. A crença em aleatoriedade “natural” é mais uma idéia que sustenta grande parte do atual sistema de crenças ateístas, ao mesmo tempo em que é atualmente rejeitada pela ciência.
Enquanto o terraplanismo pseudocientífico está profundamente enraízado no ateísmo, o "terraesferismo" é uma proposição profundamente monoteísta. Desde Aristóteles até Fernão de Magalhães, a idéia de propósito divino sempre impulsionou os esforços para provar que a Terra é, de fato, esférica.
Mas, diz estudo, recente pesquisa do instituto YouGov (muito científica, tenho certeza) descobriu que a maioria dos terraplanistas hoje é religiosa:
Então, o que aconteceu? O que aconteceu é que o terraplanismo evoluiu de uma pseudociência para um movimento filosófico — o mais interessante atualmente, se me perguntarem.
No mundo da Grécia Antiga, a “ciência” sempre foi subordinada a uma determinada filosofia ética. Os filósofos sempre tentavam construir uma ciência consistente com seus propósitos éticos. E para os epicuristas, uma teoria da Terra plana era apenas uma maneira conveniente de afastar "os deuses" do caminho de seu ideal de ética hedonista.
Fazendo as perguntas certas
A noção de uma Terra esférica é absurdamente contraintuitiva enquanto fenômeno. Afinal, não experimentamos uma Terra esférica. Nunca nos sentimos "de cabeça para baixo" e tudo parece muito plano até onde a vista alcança. É um fenômeno cuja explicação requer que você — literalmente — não acredite nos seus olhos mentirosos.
Se já não tivessemos nascido sabendo que a Terra é esférica, tal descoberta seria no mínimo radical. É uma idéia revolucionária, cujos fundamentos o homem comum perdeu a capacidade de compreender e replicar, inaugurando essencialmente a era do “problema do principal-agente” na ciência. Com a ciência se tornando incrivelmente complexa e os cientistas se tornando os ‘guardiões da verdade’, o afegão médio fica em uma posição muito vulnerável, onde as prioridades dos cientistas (sejam econômicas ou éticas) podem entrar em conflito com seu propósito de buscar a verdade. Sem a possibilidade de serem questionados.
Esse é o aspecto mais fascinante do terraplanismo como movimento filosófico: é uma resistência ao controle da informação por uma casta de iluminados em um mundo cada vez mais caótico. Uma boa dose de ceticismo para nos acordar de nosso torpor egoísta e conformista.
Por outro lado, esse também é o problema com os teóricos da conspiração contemporâneos: eles geralmente fazem ótimas perguntas, mesmo que as respostas que eles ofereçam sejam normalmente absurdas e medíocres. Mas as perguntas, são exatamente as mesmas que o resto de nós esqueceu que deveriam ser feitas — ou que consideramos muito bobas para ser feitas.
Enquanto o terraplanismo pseudocientífico se foca em denunciar uma suposta conspiração entre a NASA, CIA, KGB e ONU para ocultar a verdade sobre a forma da Terra; o terraplanismo filosófico tem por objetivo questionar o status da ciência como evangelho, mediado por profetas infalíveis. Na realidade, eles não estão questionando a forma da Terra, o problema nunca foi esse.
Podemos ver esse ceticismo saudável do terraplanismo filosófico claramente refletido no crescente número de pessoas questionando a eficácia das vacinas contra a Covid ou a ciência frágil e interesseira que sustenta os esforços do cartel das “mudanças climáticas”.
E também vemos a mesma estupidez do terraplanismo pseudocientífico refletida no repúdio a tais ‘heresias’, normalmente na forma de insultos infantis ("negacionista!", "genocida!") com muito pouca substância. Apenas porque você faz perguntas. Fazer perguntas se tornou perigoso e malvisto. O movimento filosófico da Terra plana está expondo isso ao nosso mundo esférico.
E é aí que a filosofia se separa da pseudociência. Isso é o que o pensamento crítico deveria ser.
Quando você abandona o pensamento crítico e permite que a ciência seja afetada por seu código moral particular — como fazia Epicuro — , você acaba defendendo que o aborto não é assassinato porque, não importa o que a ciência diga, você acha moralmente errado considerar um feto como um ser humano. Ou então você decide tomar a oitava dose da vacina para Covid, porque os especialistas disseram. Logo, estará comendo baratas para ver se o clima dá um refresco.
O abandono imprudente do pensamento crítico também é visível na recente popularização da física teórica, com cada teoria sendo elevada ao status de "ciência do futuro": coisas que já sabemos ser verdade de antemão, só porque "pessoas inteligentes" estão nos dizendo. Agora é só esperar que a ciência alcance suas conclusões. E isso não é especulação, a pseudociência atual está repleta de conceitos (como universos paralelos) que são consistentes com a cosmologia secular ateísta do momento. Assim como um universo eterno e em estado estacionário — ou uma Terra plana — já foram.
Portanto, o debate, para o terraplanismo filosófico, não é sobre a forma da Terra. É sobre o abandono do pensamento crítico. É sobre lutar contra uma crença cega nos agentes de um sistema provavelmente comprometido, fundamentado em um materialismo extremamente radical — e sem evidências — que gera um arcabouço científico alinhado com a ética falida de nosso tempo.
Quando você aponta isso, os ateus seculares inevitavelmente olham para a ponta do seu dedo e ignoram o que você está apontando. Tudo para que possam permanecer confortavelmente entorpecidos, bem à moda epicurista.
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Se você lê 1984 e vê o autoritarismo em nome do ‘bem comum’. Lê Admirável Mundo Novo e vê o totalitarismo em nome do ‘progresso’. Lê Fahrenheit 451 e vê a tirania em nome do ‘politicamente correto’. Quando acontece na vida real, não pode apoiar a censura em nome da ‘democracia’.
Aqui me expressei mal. Deveria ter escrito que Erastótenes foi o primeiro a considerar que a terra é redonda enquanto fato científico, não enquanto idéia. A idéia é muito mais antiga. Obrigado ao Ricardo Pinto que generosamente apontou meu erro.
A Terra é plana porque Deus a criou assim. Está na bíblia em vários trechos. O mundo é um engano. Um engano comandado por uma elite satânica que perpetua a mentira através dos tempos com sua prole e que usam a palavra democracia para escravizar a população mundial.
Eu entendi a verdade por de trás dessa matéria, acredito. Espero que eu esteja certo, porque alguém com bom senso e que fala oque você fala, sabe estudar, escutar e, com certeza, discernir o que é real do que é falso. O que o colega, Paulo, falou aí procede.