Quando você precisa adicionar ‘Democracia’ ao seu nome, geralmente é um mau sinal. Veja o exemplo da República ‘Democrática’ Popular da Coreia do Norte, da República ‘Democrática’ da Alemanha Oriental e do Partido ‘Democrata’ americano.
O partido dos democratas que não querem que os eleitores votem, liberais com um gosto pela censura e livres-pensadores que seguem a linha do partido.
O partido que acabou de dar um auto-golpe para remover seu pré-candidato presidencial, Joe Biden. O atual presidente americano era o candidato presumido do Partido Democrata, apoiado por mais de 11 milhões de votos recebidos dos membros do partido nas primárias, que terminaram em junho passado.
Mas um golpe palaciano, liderado por oligarcas dentro do Partido Democrata, como Nancy Pelosi (ex-presidente da Câmara) e Chuck Schumer (líder da maioria no Senado), que publicamente pediram para Biden desistir da corrida esta semana, anulou a vontade de 11 milhões de eleitores democratas.
A insurreição para remover Biden da corrida teve sua própria ‘cartinha pela democracia’ este mês, assinada por alguns dos maiores oligarcas do Vale do Silício e Wall Street — como o bilionário das criptomoedas Mike Novogratz e a família Walton, herdeira da fortuna do Wal-Mart, pedindo pela desistência de Biden.
Até o ator George Clooney, um dos maiores arrecadadores para o partido democrata em Hollywood, se juntou ao coro, chantageando Biden publicamente com a possibilidade de cortar o financiamento de sua campanha caso ele não desistisse da corrida.
A desculpa foi a constatação da perda de capacidade cognitiva de Biden. Uma mentira. Eles sabiam do declínio mental de Biden há muito tempo. Afinal de contas, em fevereiro Biden foi considerado ‘intelectualmente incapaz’ pela promotoria para responder legalmente pelos documentos sigilosos encontrados em sua propriedade.
Mas Biden foi escolhido por uma única razão: em um partido democrata que se radicalizou à esquerda e fragmentou sua base, ele demonstrou ser o único nome que podia fazer frente a Donald Trump, ainda em 2020.
Porém, após realizar um governo desastroso tanto no campo econômico, com uma inflação em altas históricas e um déficit descontrolado, quanto no campo geopolítico, desde a retirada fracassada do Afeganistão até a explosão de conflitos na Ucrânia e Palestina que levam o mundo a temer por uma 3ª Guerra Mundial, Biden perdeu a força e caiu nas pesquisas. Mas continuava competitivo.
Uma série recente de eventos incrivelmente negativos para Biden, no entanto, terminaram de afundar suas chances: o debate que escancarou seu declínio cognitivo ao vivo para o mundo e a tentativa de assassinato contra Donald Trump na Pensilvânia.
Biden agora estava irremediavelmente derrotado nesta campanha. A única saída para a oligarquia democrata seria dar um auto-golpe.
Pense no 6 de janeiro de 2021 — ou 8 de janeiro de 2023 no nosso caso. Agora imagine que, em vez de uma massa improvisada de saltimbancos trapalhões, tivéssemos a nata da nata organizando o evento — políticos, empresários, jornalistas, acadêmicos. A chamada elite.
A insurreição já até parece um pouco mais palatável, mais civilizada e intelectualizada. Mas, seguindo em frente. Agora imagine que, em vez de um levante popular espontâneo e descoordenado vandalizando o patrimônio público, tivéssemos um movimento calculado e oculto, orquestrado por alguns dos operadores políticos mais experientes do mundo.
E se os insurrecionistas realmente tivessem um plano para chegar ao poder? Não apenas a invasão de prédios do governo, mas um esquema completo, incluindo a habilidade financeira de reter fundos tornando a campanha do incumbente inviável e o apoio da mídia para unilateralmente encerrar sua campanha e colocar-se em posição de indicar quem eles desejarem.
Um golpe palaciano, em nome da salvação da democracia.
Só que o que eles chamam de ‘democracia’ é algo completamente diferente: é o projeto de poder do partido. Democracia é quando eles ganham o poder. Um ideal totalitário no qual eles genuinamente acreditam.
Quando chega a época das eleições, a máquina entra em plena atividade, repetindo que “a democracia está em jogo”. Mas o que eles querem dizer é que a agenda deles está em jogo. Não a capacidade do cidadão de votar, escolher seus representantes e ter sua voz ouvida de maneira proporcional. Essa não tem a mínima importância.
Não, essa é a democracia da plebe. Essa é a ameaça. Assim como na França a esquerda conspirou para manipular o processo eleitoral, formando verdadeiros cartéis para retirar candidatos e conduzir eleitores em direção aos seus resultados preferidos, mais uma vez vemos a elite trapacear os eleitores e escolher seus campeões.
Eles sabem que, assim como biscoitos são bons, mas às vezes atraem formigas; a democracia é boa, mas às vezes produz resultados indesejáveis. E isso é inaceitável.
E eles estão cada vez mais chegando à mesma conclusão, seja na França com partidos conspirando para manipular eleições, no Brasil com a politização do Judiciário fazendo amplo uso de censura e outros meios ilegais para afetar os resultados das urnas, e agora nos EUA com a elite encenando um auto-golpe: uma democracia pírrica onde vencer significa perder porque você sempre é minado pelo estado profundo.
É um jogo de números: aparelhar o serviço público, enviesar os tribunais e turbinar a máquina midiática.
Quando tudo o mais falha, é hora de fazer um ajuste-fino nas cédulas. Para preservar a democracia, às vezes é necessário tutorar a escolha do público, guiando as massas desinformadas para um resultado ‘aceitável’.
Você não acaba em um regime que persegue, desqualifica e prende a oposição por acidente ou apenas pelas mãos de alguns atores desonestos. Como disse Georges Bernanos, democracia não é o oposto de ditadura, e às vezes leva a esse fim.
Eles acreditam que a inteligência democrática das elites deve permitir que impeçam certas pessoas de concorrer a cargos públicos, tudo em nome da justiça social. Salvaguardar essa democracia significa não fazer perguntas, não dissecar muito. Primeiro deve-se proteger a democracia de si mesma, e então do povo.
Passo a passo, eles normalizaram todos os truques sujos para convencer seus colegas de que suprimir a dissidência e eliminar a oposição é, de fato, o caminho a seguir para uma democracia progressista.
Então, quando eles dizem que a ‘democracia’ está sob ameaça, é porque eles entendem que, no fundo, a democracia é a ameaça.
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Vocês são patéticos kkk chora mais, vai perder