Para quem não conhece, o Brasil não tem como explicar.
O Brasil tem que sentir. Sentir o trombadinha fungando no teu cangote e a mão do político vasculhando o teu bolso.
O problema é esta crença inabalável que o brasileiro tem de que poderia estar roubando ou matando.
“Como assim? Não poderia, não!”. Sempre questione as premissas.
O isentão pensa “olha que bonito, eu poderia estar matando, poderia estar roubando, mas não… estou aqui salvando a democracia!”
Já o tecnocrata-liberal “…mas estou aqui vendendo os interesses nacionais ao capitalismo de estado chinês.”
Tudo no maior rigor moral. Rigor mortis moral.
O verdadeiro moralismo é o falso moralismo. O moralismo de resultados.
O resto é falcatrua ideológica.
E, teleologicamente, ser imoral é ser burro.
O conservador é alguém que preserva nossos costumes e tradições.
Nossos costumes e contradições.
Não há diferença alguma entre a democracia dos otários e a ditadura dos malandros.
Temos que mudar de nome para República Democrática do Brasil.
A ditadura da democracia.
Declaração Universal dos Direitos do Brasileiro
Art. 1 — Todo brasileiro poderia estar roubando ou matando.
Inc. I — Lei do hoi polloi. Os brasileiros que não estiverem ou roubando, ou matando, deverão estar, obrigatoriamente, trazendo a alegria da sua viagem.
Inc. II — Os brasileiros que estiverem roubando um celular, para fins de tomar uma cervejinha, estarão isentos de penas policiais.
Inc. III — Lei Odebrecht. Brasileiro que rouba de brasileiro tem a condenação anulada. Em até três instâncias.
Inc. IV — Lei Carmem Lúcia. Fica terminantemente proibida a censura em todo o território nacional. Exceto em ano eleitoral.
E o Artigo Jacaré.
A democracia brasileira é quase perfeita, o que estraga é a oposição.
Na democracia brasileira, os documentos mais importantes não são a Constituição e o voto, mas sim a cartinha pela democracia e o código-fonte da urna eletrônica.
Numa democracia, às vezes você é obrigado a votar num cara que é meio 171, não tem jeito. Mas daí a votar num cara que é 1.710.000, já é demais…
Só no Brasil você vê manchetes como “Povo Sai às Ruas em Ato Anti-Democrático”.
Desmaçãzaram a maçã, como diria Platão.
A democracia brasileira pula o dia da perna na academia.
Na melhor das hipóteses, democracia no Brasil é roleta russa.
Onde somente 5% dos deputados são eleitos pelo voto, e o presidente é eleito pelo TSE.
O voto livre, leve e solto. Ou melhor, cativo, pesado e preso.
Pro horror de Oswald Spider, o brasileiro de alma americana.
Todo dia de manhã, um otário e um malandro saem de casa. Quando se encontram, eles salvam a democracia.
Numa democracia o voto é a sua arma e, como se sabe, estamos em plena campanha pelo desarmamento.
O discurso do Malafaia me lembrou Voltaire: o governo precisa de pastores e de açougueiros.
Verdade seja dita, o brasileiro nem sempre cumpre o que promete, mas muitas vezes cumpre o que nem prometeu.
O brasileiro, que já resolveu a questão de Gaza faz tempo. Bastou colocar o Oscarito como Rei.
Como diria Santo Agostinho, o presente é o fio da navalha e a fé é o fio do bigode.
De utópico a ultracrepidário, a gente vai conjugando a tabuada do 13 na língua do pê.
PS: Essa semana tanto a The Economist quanto a Foreign Affairs trazem artigos (bem ruinzinhos) questionando a direção da diplomacia brasileira. E o Ministério Público de NY anunciou abertura de processo contra a JBS, a queridinha do Lula. A maré está virando?
Meu livro “Primavera Brasileira” está disponível na Amazon (em versões eBook e física), um livro de frases com a crônica do processo eleitoral (por falta de palavra melhor) que o Brasil sofreu em 2022.