A Caça aos Dissidentes nas Faculdades de Economia Americanas
Progressistas querem violar a privacidade e monitorar o comportamento dos economistas que pensam diferente
O Econ Job Market Rumors (EJMR) é um fórum online anônimo para estudantes de PhD em economia nos Estados Unidos, onde os usuários podem compartilhar informações e notícias relacionadas ao mercado de trabalho. Com impressionantes 2,5 milhões de visitas mensais em 2022, a popularidade do EJMR é inegável. No entanto, como em qualquer fórum anônimo, uma pequena parcela dos usuários acessa o site para postar conteúdo que pode ser considerado como racista, misógino ou xenófobo, o que rendeu ao EJMR o apelido de ‘4chan para economistas’.
No entanto, por ser anônimo, o EJMR também é um porto seguro para denúncias contra más práticas dentro do meio acadêmico, para expor corrupção e fraude, como plágio e práticas questionáveis de recursos humanos; e onde os usuários são livres para expressar opiniões impopulares ou politicamente incorretas. Esse aspecto do site tem se tornado um incômodo para alguns proeminentes acadêmicos americanos, que desejam identificar e punir os usuários, e até mesmo fechar o site.
Por anos, os progressistas tem lutado para derrubar o EJMR. Um exemplo disso é uma petição lançada pelo Institute for Women's Policy Research, instando a American Economic Association (Associação Americana de Economia — AEA) a endereçar suas preocupações quanto aos “comentários impróprios e sexistas” feitos no site. Os peticionários lamentam que “ninguém pode fechar o site EJMR” e exigem que a AEA forneça uma alternativa, eles até têm um nome para ela, “AEA Job Market Data”.
A petição, assinada por mais de 1.000 acadêmicos de supostamente alto escalão, não propõe uma solução própria. É surpreendente que nenhum dos signatários tenha considerado lançar tal alternativa por si mesmos, revelando a falta de empreendedorismo, iniciativa e coragem; demonstrando um flagrante senso de privilégio e dependência das autoridades estabelecidas.
Geolocalizando os Dissidentes
Como os esforços burocráticos para fechar o EJMR não obtiveram sucesso, três pesquisadores das universidades de Yale e Boston decidiram dedicar os recursos valiosos provenientes de suas bolsas acadêmicas ao que eles veem como as questões mais urgentes na economia americana hoje. Essas questões não estão relacionadas à histórica alta da inflação ou à dívida pública crescente. Não, esses tópicos não aguçam o interesse dos corajosos e destemidos pesquisadores. Em vez disso, eles se concentraram em responder às seguintes duas perguntas em um artigo apresentado esta semana no prestigioso National Bureau of Economic Research (ou Instituto Nacional de Pesquisa Econômica —NBER, algo como o IPEA americano):
“— Como os economistas se comportam quando acham que estão anônimos?
— Quão prevalente é o discurso de ódio na economia? Quem se envolve nesse tipo de discurso?”Ederer, Florian, Paul Goldsmith-Pinkham e Kyle Jensen, “Anonymity and Identity Online”
Para responder a essas perguntas, os pesquisadores fizeram a engenharia reversa dos números de identificação que o EJMR atribui para anonimizar os IPs dos usuários, calculando mais de 3 quatrilhões de combinações para quebrar a criptografia e obter os IPs originais. Embora as técnicas que eles usaram não sejam inovadoras, ainda assim exigem recursos significativos e expõem os pesquisadores a uma série de riscos legais. Isso levanta a questão: quem os está financiando?
Em seu artigo, eles apresentam evidências incontestáveis de que monitorar o discurso dos estudantes de PhD na internet é de fato uma questão primordial para a academia econômica moderna. Afinal, entre os milhões de posts no EJMR, eles identificaram casos de racismo (um usuário postou que uma forma “mais fácil” de ser publicado pelo famoso Quarterly Journal of Economics era “nascer negro”) e misoginia (outro usuário insinuou que a nova professora assistente de seu departamento foi uma “contratação de ação afirmativa” e que ela sabia “jogar bem essa carta”).
No entanto, essas não são as únicas preocupações dos pesquisadores. De acordo com sua apresentação no NBER, transmitida ao vivo para mais de 7.000 pessoas, eles também estão profundamente preocupados com “fofocas sobre professores catedráticos” e “ataques pessoais” no EJMR. Mas essas preocupações esgotam a lista de problemas que os pesquisadores têm com o EJMR?
Não. De acordo com uma investigação conduzida pela publicação Karlstack, um dos autores (Goldsmith-Pinkham) havia sido anteriormente exposto pelo EJMR por cometer plágio. Outro autor (Ederer) falhou em obter o cargo de professor titular em Yale, o que levou a especulações de que sua “relação difícil” com os usuários do EJMR, onde é visto como um “exibicionista que quer ser o centro das atenções e prefere factóides frívolos à pesquisa séria e discreta”, contribuiu para sua reputação não apenas como um “economista medíocre, mas também uma pessoa extraordinariamente insuportável”. Como forma de retaliação, pode-se imaginar, ele escreve um artigo expondo os dados de todos os usuários do site…
Curiosamente, a pesquisa revela que a maior parte do “discurso de ódio” postado no EJMR pode ser rastreada até algumas das principais universidades do país, com bastiões do pensamento progressista como UCLA e Yale liderando o ranking:
A Censura É Como Uma Droga
Quem acredita que isso é apenas uma fogueira de vaidades dentro da bolha acadêmica da economia, precisa ver as coisas em perspectiva. Este caso representa um passo significativo que repercutirá em toda a academia e além, com aqueles que tiverem seus dados e opiniões expostos sendo marginalizados, demonizados e desumanizados na grande mídia, renomada por seu desprezo à liberdade de expressão.
A censura, veja só, é uma droga. Inicialmente aplicada de forma tópica para casos criminais: difamação, calúnia, falsos alarmes públicos, ameaças de violência e pedofilia. Nessa dose, certamente nenhuma pessoa racional contestaria seu uso benéfico.
Em seguida, ela se estende para casos de senso comum: racismo, sexismo, homofobia, xenofobia... Você começa a se sentir como a voz da razão, o adulto na sala. Afinal, mesmo que não seja contra a lei, quem gostaria de se associar a pessoas que expressam tais opiniões?
Você então se convence de que, sob uma liderança esclarecida como a sua, a censura pode servir ao bem maior. E você não hesita em usá-la:
“Você se opõe a políticas definidas com base em linhas raciais? Bem, agora isso é racista.
Você acredita que homens e mulheres têm habilidades diferentes com base em seu sexo? Isso agora é sexista.
Gostaria de uma política de imigração mais rigorosa? A reunião da última quarta-feira declarou sua opinião como xenofóbica...”
Neste ponto, você começa a perder amigos, sua família evita tocar em certos assuntos e todos pisam em ovos perto de você. Mas você não é a Stasi ou a KGB. Você apenas promove um sistema eficiente que categoriza opiniões em discurso protegido e proibido, preservando a segurança pública. Então, por que não expandir a censura e se aventurar no discurso compelido?
“Cético em relação às ‘mudanças climáticas’? Você não é nem gente! Vou rotular sua postagem como fake news. Questiona a eficácia da vacina contra o COVID? Está qui seu rótulo de anti-vaxxer, negacionista!
Você pensa que pode pensar? Você não sabe que suas opiniões podem ser criminosas agora?”
Então, por que parar na proibição do discurso a posteriori? Por que não proibir preventivamente as pessoas, antes que elas possam propagar um discurso proibido? Assim, você introduz o cancelamento como medida preventiva. E até estranhos começam a vê-lo como desequilibrado, reconhecendo o perigo potencial de seu ímpeto pela censura.
A desanonimização é outra ferramenta no kit de ferramentas da cancelamento, que pode ser usada para proibir as pessoas de expressar opiniões contraditórias. Quando banir certos discursos da sociedade limpinha das torres de marfim não é suficiente, você caçará os dissidentes no meio do mato e atirará sem nem fazer uma só pergunta antes.
Epimeteu Desacorrentado
As respostas da academia americana a esse escândalo iminente têm sido previsíveis, mas ainda assim intrigantes. Charles Crabtree, professor assistente em Dartmouth, exige abertamente retaliação contra o EJMR, postando “localizem e humilhem todos aqueles que difamam”; enquanto Chris Blattman, professor de estudos globais na Universidade de Chicago, questiona ironicamente a relevância da pesquisa em seu tweet: “O Paper 2 vai ser sobre as preferências de vídeo dos economistas no PornHub por departamento.”
No entanto, um dos líderes do ataque ao EJMR se destaca. Kurt Mitman, um ativista condenado por abuso sexual de crianças (esses indivíduos sempre parecem estar no cerne dos esquemas progressistas). De acordo com o Karlstack, Mitman é o editor-chefe do Review of Economic Studies — uma das “5 principais” publicações de economia acadêmica do mundo, “onde um único artigo pode garantir a titularidade na maioria das boas universidades para a maioria dos professores. Se você quer publicar nessas 5 principais revistas, você tem que fingir ser amigo dele no Twitter”.
Um dos poucos progressistas que ainda defendem a liberdade de expressão, o professor da Universidade George Mason, Tyler Cowen, levanta um ponto interessante: “E quanto aos usuários da Turquia, China, Rússia e outros lugares, que expressaram opiniões políticas? Esse ponto por si só não seria suficiente para resolver a questão?” Seus colegas progressistas, é claro, parecem não se importar. O que importa é marcar pontos na guerra cultural, independentemente dos danos colaterais.
No final das contas, pode ser que a horda liberal que persegue o EJMR tenha suas boas intenções (combater o racismo e a misoginia), bem como suas próprias motivações ocultas. O desastre resultante pode ser uma mistura de ambos. Mas, acima de tudo, é um indício do estado das artes na academia americana.
Em seu Protágoras, Platão contrasta o titã Prometeu (o “previsor”) com seu irmão isentão Epimeteu (o “pós-pensador”). Epimeteu, encarregado por Zeus para distribuir habilidades e virtudes para todos os animais recém-formados, esquece de guardar quaisquer qualidades para os seres humanos, deixando-os nus e indefesos.
Prometeu, ao perceber que os humanos foram esquecidos, rouba o fogo dos deuses (em geral a tecnologia, mas também associado ao livre-arbítrio) para ajudar os humanos, fornecendo-lhes os meios para sobreviver e prosperar. Por suas ações, Prometeu foi famosamente punido por Zeus, que o acorrentou a uma rocha onde uma águia devoraria seu fígado diariamente, apenas para que ele regenerasse e fosse consumido novamente no dia seguinte.
Epimeteu, em sua isenção eterna, foi posteriormente responsável por aceitar Pandora como um presente de Zeus (parte de um plano para se vingar da humanidade), ignorando o aviso de seu irmão Prometeu de não aceitar presentes dos deuses. Assim como Epimeteu, os acadêmicos progressistas de hoje continuam a apoiar artifícios que minam um de nossos bens mais preciosos, nossa liberdade de expressão. Apesar dos avisos conservadores contra a censura, que muitas vezes são desconsiderados como ‘bens supérfluos’ diante do bem maior da ‘justiça social’.
O problema é que a censura mais eficaz não apenas silencia os censurados, mas também aqueles que os apoiam (por medo) e aqueles que os fazem oposição (por conveniência). É bom prestar atenção em quem é quem.
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Se você lê 1984 e vê o autoritarismo em nome do ‘bem comum’. Lê Admirável Mundo Novo e vê o totalitarismo em nome do ‘progresso’. Lê Fahrenheit 451 e vê a tirania em nome do ‘politicamente correto’. Quando acontece na vida real, não pode apoiar a censura em nome da ‘democracia’.